Não mexer na carteira de investimentos: saber parar pode ser uma boa estratégia

Em um mercado cada vez mais volátil, com juros altos e incertezas macroeconômicas, a melhor decisão de investimento pode ser… desacelerar. A ideia de que o investidor precisa se movimentar constantemente para ‘não perder oportunidades não é apenas equivocada, mas potencialmente prejudicial. Em muitos casos, a estratégia mais inteligente é não mexer na carteira de investimentos, desde que ela já esteja bem estruturada e alinhada aos objetivos de longo prazo.
“Alterar a alocação apenas por movimentos de curto prazo pode mais atrapalhar do que ajudar”, afirma Fernando Gonçalves, sócio da The Hill Capital. Para ele, confiar no planejamento previamente construído é essencial, especialmente quando o impulso de reagir ao mercado vem mais da emoção do que dos fundamentos.
Riscos de movimentar demais a carteira
A ansiedade de ajustar a carteira com frequência tem um preço. E nem sempre ele aparece de forma evidente. Além dos custos operacionais e tributários, o investidor corre o risco de errar o timing do mercado, comprando caro e vendendo barato, e comprometer o desempenho da carteira.
“Já vi casos em que o excesso de trocas, mesmo bem intencionadas, resultou em uma performance pior e desalinhamento com os objetivos do investidor”, lembra Gonçalves.
Já Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, reforça que movimentações impulsivas em períodos de instabilidade, muitas vezes, partem da emoção, e não de uma análise racional. “O resultado são custos altos e perda de eficiência”, afirma. Diante do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, por exemplo, a recomendação de especialistas foi não operar no susto.
Mas quando não mexer na carteira de investimentos?
Quando o mercado balança, a tentação de agir aumenta. Mas a resposta, segundo os especialistas, está na disciplina e nos fundamentos. “Se o racional por trás de cada posição continua válido, como perfil de risco, qualidade dos ativos, horizonte de investimento, não há razão para mudar só por causa da volatilidade do momento”, diz Gonçalves.
Ana Paula concorda.
Para ela, o investidor precisa diferenciar eventos pontuais de mudanças estruturais. “Antes de qualquer decisão, é preciso avaliar se os fundamentos ainda fazem sentido e se o objetivo e o perfil do investidor continuam os mesmos”, afirma.
Cenário atual favorece cautela e menos movimentação
Com os juros reais em patamar elevado, a renda fixa tem oferecido retornos atrativos com menor risco, o que reforça a lógica de não mexer na carteira de investimentos, especialmente em um ambiente de incerteza econômica. “O cenário atual exige mais análise e menos impulso. A renda fixa voltou a ser uma alternativa interessante, o que reduz a pressão para tomar risco desnecessário”, diz Ana Paula.
Gonçalves também aponta que a chave está em resistir ao impulso de agir. “Um bom investidor precisa reconhecer quando o melhor movimento é nenhum. E, para isso, é essencial ter clareza de estratégia, fundamentos sólidos e consciência dos custos de cada decisão.”
Em resumo: investir também é saber parar. Quando a carteira está bem construída e os fundamentos continuam válidos, a inércia pode ser não só uma escolha segura, mas estratégica.
3 sinais para não mexer na carteira de investimentos
Segundo os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, alguns critérios objetivos ajudam o investidor a saber quando não mexer na carteira de investimentos pode ser a melhor escolha.
Sinais para evitar mexer na carteira de investimentos |
Quando a carteira está bem estruturada e alinhada ao perfil de risco: se a alocação já foi feita com base em objetivos de longo prazo e fundamentos sólidos, o investidor deve evitar mudanças motivadas apenas por ruído de mercado. |
Quando há volatilidade sem mudança estrutural: oscilações momentâneas, mesmo intensas, não justificam por si só uma reavaliação da estratégia. É preciso entender se há uma real deterioração dos ativos ou apenas reação emocional do mercado a eventos pontuais. |
Quando há custos e impactos tributários relevantes: a troca de ativos pode gerar custos de corretagem, perda de eficiência fiscal e realização de ganhos que aumentam o imposto a pagar. Isso muitas vezes compromete a rentabilidade no longo prazo. |
Leia a seguir