Sucesso no crédito privado em 2025 vai exigir mais capacidade de garimpo, diz Itaú Asset
Ainda há boas oportunidades de rentabilidade superior com ativos de crédito privado no Brasil em 2025, mas o êxito ao adotar essa estratégia dependerá da maior habilidade para identificar papéis com equilíbrio adequado entre risco e retorno. A análise é de Fayga Delbem, chefe da área de crédito na Itaú Asset, que tem uma carteira de títulos privados de cerca de R$ 500 bilhões.
“Não é um ano em que tudo vai performar bem, como em 2024, mas de seleção de ativos”, disse ela à Inteligência Financeira durante o CEO Conference, evento do Itaú BBA realizado em Nova York. “Vai depender mais da habilidade do gestor”, acrescentou.
Suas declarações ocorrem na esteira da desaceleração das captações no mercado de crédito privado nos últimos meses, diante de um cenário de juros mais altos.
Após salto de 66,7% das emissões em 2024, via papéis como debêntures, certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do agronegócio (CRAs), o crescimento desse mercado foi de apenas 1,8% de janeiro a abril de 2025, ante mesma etapa do ano anterior, segundo dados da Anbima.
Segundo Fayga, muitas das maiores companhias do País fizeram “o dever de casa”, aproveitando a forte liquidez do mercado para tomar empréstimos com prazos longos e taxas adequadas.
Selic alta demanda mais cautela na escolha de crédito privado
Agora, com a Selic em 14,75% ao ano, pico em 19 anos, essa atividade deve desacelerar. Na outra ponta, os investidores também tem um apetite mais moderado, porque a possibilidade de valorização dos títulos privados também é menor agora.
Ainda assim, disse a executiva, há debêntures de boa qualidade no mercado com rentabilidade ao redor de CDI + 2%, uma taxa atrativa.
“Tem boas oportunidades, mas é preciso ter mais cautela”, frisou a especialista, lembrando que o custo mais alto do serviço da dívida tende a erodir o perfil financeiro das empresas, aumentando o risco do investimento.
Segundo Delbem, esse cenário vai exigir maior capacidade dos gestores na escolha dos ativos de crédito privado. Nesse sentido, uma categoria que tende a deslanchar é a dos fundos de recebíveis (FIDC).
Após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ter atualizado a regulação do setor no ano passado, passando a permitir a oferta desses produto diretamente para investidores de varejo, os instrumentos vêm ganhando mais tração.
Nos primeiros quatro meses de 2025, as emissões com FDICs somaram R$ 24,6 bilhões, 25,7% a mais do que um ano antes, segundo a Anbima.
Os FIDCs permitem que o crédito chegue nas empresas de menor porte, normalmente de maior risco. Porém, sua estrutura tem amortecedores de risco para os investidores. O produto tem alíquota de Imposto de Renda de 15% sobre os ganhos, diferente do que acontece com os demais ativos de renda fixa, que têm taxa regressiva partindo de 22,5%. Além disso, o FDIC também não tem come-cotas.
Segundo Fayga, ainda há muito preconceito de parte dos investidores em relação ao FDIC, associando-o a um perfil de maior risco. “É o contrário; em algumas emissões você consegue ter séries muito mais protegidas”, afirmou ela.
Em março, a Itaú Asset lançou o FDIC Soneto, com retorno de CDI + 2% ao ano, destinado a investidores qualificados. Como atingiu o alvo (R$ 500 milhões) em apenas duas semanas, o Itaú fechou para novas captações, mas já faz planos para mais. “Logo teremos novidades”, alertou ela.
Leia a seguir