Carteira diversificada protege dos riscos que o investidor sequer vê; saiba como montar a sua
Especialistas apontam onde os investidores mais erram ao montar uma carteira diversificada e mostram como estruturar um portfólio eficiente

Montar uma carteira diversificada é uma das primeiras orientações para quem começa a investir, mas quando feita sem critério, pode mais confundir do que proteger.
Para o planejador financeiro Jeff Patzlaff, o ponto de partida está em entender a lógica por trás da diversificação. “Estudos como os de Burton Malkiel sugerem que entre 12 e 20 ativos não correlacionados já ajudam a reduzir significativamente o risco específico. Mas isso não quer dizer que o investidor deva sair comprando tudo o que vê pela frente. A quantidade, sozinha, não garante proteção.”
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É justamente esse ponto que Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno, reforça. Ele lembra que diversificação eficaz depende de como os ativos se comportam em relação aos demais. “O ideal é que eles tenham baixa correlação. Ou seja, que não andem todos para o mesmo lado quando o cenário muda. Isso vale tanto para setores diferentes na bolsa quanto para a combinação entre renda fixa, ações e ativos internacionais.”
Quando a diversificação atrapalha
A ideia de que ‘quanto mais, melhor’ é um dos mitos mais comuns entre investidores no momento de construir uma carteira. Para os especialistas, o excesso de ativos pode dificultar o acompanhamento, diluir ganhos potenciais e até gerar falsa sensação de proteção.
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“Quando o investidor coloca ativos demais, ele começa a perder controle e clareza sobre o que tem na carteira. Às vezes, inclui ativos de baixa qualidade só para parecer diversificado. Isso, além de inútil, pode comprometer o retorno”, alerta Jeff.
Guilherme observa o mesmo movimento na prática.
“Tem muita gente que acha que está diversificado porque tem 15 ou 20 ativos, mas quando você olha de perto, cinco são do mesmo setor, como o financeiro, por exemplo. Aí, qualquer choque nesse setor afeta boa parte da carteira. É concentração disfarçada de diversificação.”
Como montar uma carteira diversificada de verdade
Os especialistas concordam que o mais importante é diversificar entre classes de ativos, e dentro delas, escolher exposições que não andem totalmente juntas.
“Renda fixa, ações, fundos imobiliários, ativos internacionais – cada classe reage de um jeito a diferentes cenários econômicos. Quando os juros estão altos, a renda fixa é beneficiada. Quando caem, a bolsa e os FIIs tendem a reagir melhor. Ao ter ativos que respondem de formas distintas aos ciclos econômicos, o investidor suaviza os impactos negativos e captura oportunidades”, explica Guilherme.
Jeff acrescenta que esse equilíbrio permite rebalancear a carteira com o tempo, ajustando os pesos conforme o cenário muda. “O objetivo da diversificação é reduzir o risco sem comprometer o retorno. Para isso, os ativos precisam se comportar de forma complementar, e não idêntica.”
Dentro das classes, a lógica se mantém. Em ações, vale olhar para setores distintos e empresas com modelos de negócios diferentes. Em fundos imobiliários, é importante misturar tipos, como fundos de papel e de tijolo. Já na renda fixa, diversificar entre pós-fixados, prefixados e IPCA+ é essencial para proteger o poder de compra e aproveitar diferentes momentos do ciclo de juros.
E para quem está começando?
Investidores iniciantes ou com pouco tempo para acompanhar o mercado devem buscar uma carteira diversificada simples, eficiente e de fácil monitoramento. Jeff sugere um exemplo de alocação para um perfil conservador de longo prazo:
- 70% em renda fixa pós-fixada
- 7% em prefixados
- 8% em títulos atrelados à inflação
- 5% em fundos multimercados
- 3% em renda variável
- 7% em ativos atrelados ao dólar
Já Guilherme defende começar com o básico. “Tesouro Selic para reserva, um pouco de Tesouro IPCA+ para manter poder de compra e, se quiser se expor à renda variável, usar ETFs como o BOVA11 e o IVVB11, que já trazem diversificação automática, baixo custo e gestão passiva.”
O mais importante, segundo ele, é não confundir complexidade com sofisticação. “É melhor ter uma carteira pequena, clara e bem construída do que uma carteira lotada de ativos que você não entende nem acompanha.”
Qualidade é mais importante do que quantidade
Diversificação real não é quantidade, é estratégia. Significa entender o comportamento dos ativos, como eles reagem ao cenário, e como se complementam. É menos sobre ‘ter de tudo’ e mais sobre equilibrar riscos com inteligência.
“Mais ativo não significa mais proteção. Uma carteira diversificada de verdade é aquela que te protege dos riscos que você nem vê chegando, e que você consegue acompanhar com clareza”, resume Guilherme.