Rali de ações, eleições 2026, guerra comercial e patamar dos juros dominam conversas entre CEOs e investidores

Thomas Wu, economista-chefe da Itaú Asset, conta o que foi destaque na 18ª edição do Latam CEO Conference do Itaú BBA, em Nova York

Terminou, no final da tarde de quinta-feira (15), a 18ª edição do Latam CEO Conference do Itaú BBA, em Nova York, nos Estados Unidos. O encontro reuniu empresários latino-americanos e investidores globais, que puderam trocar perspectivas sobre negócios, novos projetos e investimentos.

Ao longo dos três dias de evento, foram realizadas mais de 1,3 mil reuniões entre 600 investidores e 140 CEOs.

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O evento é uma oportunidade para colher o sentimento do investidor estrangeiro com relação ao ambiente de negócios no Brasil e conhecer o atual momento das empresas, bem como seus novos projetos.

A Inteligência Financeira fez a cobertura in loco do evento em Nova York. Você acompanha nossas reportagens aqui. Ao longo dos próximos dias, seguiremos publicando novos conteúdos.

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Ao longo dos três dias do evento foi perceptível a mudança de humor tanto dos CEOs quanto dos investidores.

O evento começou na terça-feira (13), logo após o anúncio do presidente americano Donald Trump de que faria uma trégua temporária na guerra tarifária com a China. A possibilidade de um acordo deu nova perspectiva às conversas, ainda que perdure a incerteza.

O patamar dos juros no Brasil, o rali da bolsa de valores local, o desequilíbrio fiscal do governo federal e o cenário para as eleições presidenciais em 2026 também foram temas de destaque nesta 18ª. Latam CEO Conference. Estes assuntos permearam todas as conversas de negócios e investimentos.

A Inteligência Financeira conversou com Thomas Wu, economista-chefe da Itaú Asset, no último dia do evento. À seguir, confira trechos editados dessa conversa. Nela, Wu traz alguns dos destaques da Latam CEO Conference.

Trump vs. Xi Jinping

“Eu acho que é importante botar no contexto que quando você pergunta para um CEO de uma empresa sobre o impacto da guerra comercial, ele vai sempre tentar, de alguma forma, te deixar tranquilo, e falar que é ruim, mas não é tão ruim assim.

‘A gente sobrevive’, é o que ouvi da maioria dos CEOs. Apesar disso, eles ainda têm muita incerteza. E se daqui a 10 dias o Trump ‘despausar’ (a guerra comercial com China)? E se no fim da pausa as tarifas voltarem?

Deixa eu dar um exemplo, vi o líder de uma empresa dizer; ‘se meu produto manufaturado que exporto tiver 10% (de tarifa), a empresa tem margem (de lucro). A gente consegue absorver (tarifa de 10%).’

A incerteza está fazendo os líderes assumirem falas como se estivesse tudo bem, quando não está. Essa incerteza (econômica) é grande o suficiente para causar grandes mudanças no ambiente de negócios.”

Efeitos dos juros altos por mais tempo

“Esse foi um grande tema entre os investidores (na CEO Conference). Eles veem que para poder ter um novo rali (de ações na bolsa de valores), um novo salto no valor das empresas, para ter o Ibovespa subindo 10%, 15%, é preciso ter um ciclo de corte de juros mais sustentável.

O nosso juro real, dependendo do horizonte, com IPCA mais 7% é altíssimo. E mesmo assim as empresas conseguem, de certa forma, sobreviver. Mas para você ter um destravamento do valor delas, esses juros têm que cair.

Conversei com o CEO de uma empresa do setor de consumo. Perguntei a ele se estava otimista com as perspectivas para o setor, com a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o novo crédito consignado. Isso tudo afeta (positivamente) o mercado consumidor. Ao que ele me respondeu: ‘É bom sim, desde que os juros caiam.’

Os investidores e os líderes estão discutindo se há condições ou não desse corte (de juros) ser sustentável. É uma discussão macro. Isso é maior do que já está precificado.”

Novos projetos, novos negócios

“Na maioria das apresentações que vi (na CEO Conference), todo CEO, quando fala em capex (inglês para capital expenditure ou investimentos), diz que para o ano que vem, espera investir mais ou menos como neste ano.

Nada do tipo, ‘estamos bem animados, vamos pegar dinheiro no mercado e vamos fazer uma fábrica nova.’ Não, porque o custo de capital é altíssimo.

Bancar um projeto novo, diante de todos os riscos e incertezas, e que ainda entregue mais que IPCA mais 7%? Realmente, é complicado.”

Bolsa deslancha?

“No primeiro trimestre, tivemos dois fundamentos (que explicam alta do Ibovespa). Um deles foi mais, digamos assim, tático. Eu acho que já passou. A gente teve um estresse no final do ano passado, onde ninguém queria ativo brasileiro. Um dos gatilhos para este fenômeno foi o câmbio, que chegou perto de R$ 6,30. Houve um grande pessimismo com relação ao Brasil.

E aí, depois, o estrangeiro, com um pouco mais de calma, olhou para o cenário local, viu que não estava tão ruim. Eles (os investidores estrangeiros) entraram e pegaram essa renda. Então, a gente viu que o câmbio voltou.

Existe um fenômeno chamado ‘home bias‘. A gente como brasileiro, olha para o País e pensa assim, o Brasil está melhor ou pior do que o ano passado? Se ele está pior, a gente sente muito isso, pois moramos aqui. Mas a pergunta que o estrangeiro faz é diferente. Ele olha para o Brasil relativamente a outros países e se pergunta: está melhor ou está pior?

O País pode até estar pior que o ano passado, mas se todo o mundo piorou um pouco, isso não faz muita diferença. E, na verdade, em termos relativos, o Brasil até melhorou um pouco.

O estrangeiro olha a discussão dos Estados Unidos não só do ponto de vista da incerteza com as tarifas e se questiona: institucionalmente, é um país seguro? Será que o presidente (Donald Trump) consegue mudar várias leis e mudar totalmente o ambiente de negócio?

É lógico que (os EUA) são um país muito mais seguro que o Brasil. Mas talvez o grande investidor olhe isso e avalie se deve ter tanto dinheiro investido nos Estados Unidos. E aí se decide tirar um pouquinho de dinheiro dos Estados Unidos, onde vai botar? A Europa é melhor? Será que o Japão?

Nesta perspectiva, comparativamente, o Brasil fica mais atraente.”

Eleições 2026

“O assunto eleição é um tema de bastante interesse. O investidor estrangeiro não tem nenhuma paixão ou apreço por determinado nome versus outro nome.

Toda vez que ele (investidor) investe em um país, se torna sócio do governo deste país.

E neste sentido, o investidor quer saber como é que estão, por exemplo, as contas fiscais desse país. Porque se a conta não está fechando, provavelmente ele vai perder dinheiro.”

Fazer mais com menos

“O que me marcou muito nessa CEO Conference foi uma fala da Tamara Klink (velejadora, filha de Amyr Klink). Não a conhecia. Ela esteve aqui conosco. E falou, no contexto da aventura dela, que ela aprendeu a fazer mais com menos.

Ela contou como isso é um desafio que a gente enfrenta hoje em todas as esferas da sociedade.

Sim, eu acho que ela estava falando no nível individual. No sentido de evitarmos ser tão materialistas. Mas se você pensar, essa ideia vale para qualquer empresa.

E, bem ou mal, todas as empresas estão dizendo: ‘A gente vai fazer mais com menos, ou seja, vou aumentar o lucro.’

E de certa forma, para essa taxa de juros cair mais do que a gente espera, acho que o governo também tem que fazer mais com menos.”

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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