Como ficam os investimentos com a alta da Selic prevista para a próxima reunião do Copom?
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorre entre 6 e 7 de maio. Existe por enquanto a expectativa de mais um aumento na taxa Selic, a taxa básica da economia. Para entender o cenário atual e perceber onde podem estar as oportunidades de investimento para o momento, a Inteligência Financeira ouviu cinco especialistas.
Selic vai subir na próxima reunião do Copom?
Sim, a Selic deve subir na próxima reunião do Copom. De acordo com os especialistas ouvidos por Inteligência Financeira, a alta deve ser de 0,50 ou de 0,75 ponto percentual.
“Nossa expectativa é de uma alta de 0,75”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, e Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, também acreditam na mesma intensidade de alta no próximo encontro do colegiado.
Com isso, a Selic chegaria a 15% ao ano. “Ainda encontramos um cenário desafiador, de certa forma, que exige uma postura de cautela da autoridade monetária”, diz Sung, destacando que ainda há muitas incertezas.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, e Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, são mais moderados e indicam aumento de 0,50 ponto, em média.
“Diante das incertezas fiscais, da desancoragem das expectativas e do IPCA ainda acima do teto da meta, não vamos ter espaço para o Copom ser leniente e entregar uma alta menor do que a precificada atualmente pelo mercado”, afirma Lohmann.
Tarifaço deve impactar próxima reunião do Copom?
Na opinião de Sung, Pletes e Lohmann, as medidas de Donald Trump não devem impactar as decisões do Copom – pelo menos por enquanto.
Para o economista-chefe da Suno Research, o cenário doméstico tem peso mais relevante que o externo, apesar de todas essas incertezas. “É claro que existe impacto no câmbio, mas internamente há dúvidas maiores que pesam mais sobre o Banco Central”, diz ele.
Pletes segue o mesmo raciocínio. Ele ressalta que as decisões da próxima reunião devem ser baseadas nos índices internos de inflação e atividade econômica, que são inclusive anteriores ao tarifaço de Trump. “Como ainda houve a pausa de 90 dias nessas medidas, acredito que neste momento elas não devam impactar diretamente as decisões”, afirma.
“No médio e longo prazo, porém, se houver mesmo guerra comercial, se as questões tarifárias começarem a pesar muito, se o câmbio ficar de fato muito desvalorizado e isso afetar a inflação de forma indireta, as medidas de Trump poderão, sim, afetar a decisão do BC”, pondera Sung.
E depois da próxima reunião do Copom, a Selic vai cair?
Não imediatamente. Na visão de Sung, o Banco Central deve continuar subindo os juros mesmo depois da próxima reunião do Copom. Para junho, sua expectativa é de ajuste de 0,25 ponto, o que então encerraria a escalada em 15,25%.
No entanto, ele alerta que, para que seja mesmo determinado o fim do ciclo, a inflação precisa dar mais sinais de convergência ao redor da meta.
Onde estão as oportunidades de investimentos
De acordo com os especialistas entrevistados, tanto renda fixa quanto ações podem ser interessantes, dependendo do perfil e dos objetivos do investidor.
Tesouro Selic
Paloma destaca que as taxas de renda fixa estão cada vez mais atrativas. Por isso, vale a pena para o investidor com perfil conservador seguir nessa família de investimentos. Na sua opinião, o Tesouro Selic, por exemplo, é interessante para construir reserva de emergência. “Considerando, claro, que a Selic deve voltar a cair quando essa maior instabilidade passar”, diz.
IPCA+
Na opinião de Cruz, da RB Investimentos, já existem alternativas de prefixados mais interessantes e as taxas de IPCA+ podem ser bem atrativas. “Olhando para os próximos 24 meses, temos a sensação de que o BC voltaria a cortar juros, mesmo que a inflação fique mais em torno do teto da meta”, diz ele. “Esse cenário protege a taxa IPCA+”, destaca.
O especialista lembra que existem títulos do Tesouro que estão pagando IPCA +7%, por exemplo. “Historicamente, essa taxa é bem atrativa porque estamos acostumados a IPCA +5%”, diz ele. Ele acredita ainda que LCIs e LCAs têm taxas também interessantes no momento.
“E ainda temos os papéis de crédito privado”, diz ele. Na RB, por exemplo, há um CRI da Brookfield pagando IPCA +9%, com vencimento em 2027. “Consideramos um ativo seguro, com prazo curto e ainda isento de imposto de renda”, diz ele.
Olhando para prazos mais longos, Cruz lembra que existe risco um pouco maior. “Ainda assim, temos debênture da Prio, com vencimento em 2034, pagando IPCA +7,60%”, afirma. O especialista explica que isso acontece, neste momento, por que a percepção de risco da empresa está alta. “Isso significa que se a empresa melhorar, a tendência é de a taxa diminuir”, diz ele. Consequentemente, quem tiver esse papel pode ser abordado por investidores que queiram comprá-lo.
Outros papéis que ele considera interessantes são o CRA IPCA +8% da Minerva, até 2028, a debênture da PetroRio com vencimento em 2032, que paga IPCA +7,55%. “Temos também CRA da Raízen 2029, que paga IPCA +7,80%, e debênture da Equatorial, IPCA +7,70%, para 2035, por exemplo”, detalha. Sua dica é criar uma estratégia colocando pagamentos ao longo dos anos e diversificando os pagadores.
CDI
Na opinião de Pletes, da Faz Capital, a locação em CDI é a mais interessante até a próxima reunião do Copom. “Depois vamos avaliar as próximas conjunturas, mas por enquanto essa parece ser a melhor classe de ativos”, avalia. “Existem vários CDBs atrelados ao CDI interessantes”, diz ele.
Ações para longo prazo
Para quem tem perfil mais agressivo, Paloma acredita que pode ser uma boa hora para voltar ao mercado acionário. “As ações estão bem baratas e com expectativa de ganho”, diz. Para os moderados, em especial, ela recomenda olhar para ações que pagam dividendos. E deixar os ativos na carteira no médio e longo prazos.

Mas a economista da Valor Investimentos faz um alerta. “Digo isso considerando que o investidor pense em ações de longo prazo – e não para fazer day trade”, afirma.
Pletes também acredita que possa haver oportunidade em bolsa nos próximos meses. “Com o fechamento da curva de juros, os setores como varejo e construção começam a andar”, diz ele. O especialista acredita que pode ser interessante olhar para papéis de Moura Dubeux e Cyrela, em construção. “Em varejo, uma opção pode ser Iguatemi”, completa.
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