‘Volatilidade conhecida’, diversificação e longo prazo: como investir com vai-e-vem do tarifaço

Diante do vai-e-vem do tarifaço de Trump, o investidor deve buscar diversificar, produtos conhecidos e mirar o longo prazo

Os últimos dias foram tudo menos pacatos nos mercados globais. O vai-e-vem do tarifaço global do presidente americano Donald Trump e a guerra comercial entre Estados Unidos e China provocaram um sobe e desce das bolsas de valores pelo mundo, assim como variações do dólar, do ouro, das criptomoedas e assim por diante. Para onde se olhe, em termos de investimentos, houve impacto.

Dessa forma, especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira concordam: o investidor pessoa física costuma ser o eixo mais frágil dessa equação.

Enquanto investidores institucionais se posicionam aqui e ali e o mercado reage às notícias, as pessoas físicas enfrentam mais dificuldades para saber qual caminho seguir. Assim, é hora para o investidor acionar um freio de arrumação e realizar uma análise dos próximos passos a seguir.

Uma coisa é certa: há volatilidade contratada pela frente

O tarifaço global não foi cancelado, foi apenas suspenso por 90 dias e na prática apenas reduzido até lá. O desfecho da disputa com a China é incerto. E, por aqui, as questões fiscais e até eleitorais são um tempero adicional que tende a impactar os próximos meses.

“O investidor tem que manter a calma e ter frieza”, afirma Carlos Honorato, professor da FIA Business School. “É o momento de manter a sobriedade”, concorda Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance.

Não significa necessariamente não fazer nada.

Os especialistas concordam que a volatilidade também pode trazer oportunidades, mesmo na bolsa, e que o importante é que os investidores tomem decisões refletidas, ponderadas e alinhadas ao seu perfil e nível de risco tolerado.

Há alguns mantras para esse momento. Entre eles estão operar em mercados que o investidor conheça, diversificar, se proteger de riscos e mirar investimentos de longo prazo. Dessa maneira, selecionar ativos que reúnam bons fundamentos com fôlego além da circunstâncias de momento é um caminho.

Como investir durante a volatilidade do tarifaço?

O primeiro passo é analisar a própria carteira.

“Diante de um cenário de alta volatilidade, é muito importante que o investidor conheça seu perfil de risco e que a sua carteira reflita esse perfil. Um investidor conservador precisa analisar se isso realmente está refletido ali”, afirma Christopher Galvão, analista de fundos da Nord Investimentos.

Da mesma maneira, mesmo o investidor que se considera arrojado precisa reavaliar e observar se tem ‘estômago’ para as variações que podem estar adiante, sugere Galvão. A resposta inclusive pode ser sim, em um cenário que deve apresentar boas oportunidades.

“No cenário de alta volatilidade você pode decidir assumir riscos, até porque nesse cenário você pode ter um ganho maior”, diz. “Há boas oportunidades. Claro que elas não são triviais, mas existem”, completa.

‘Volatilidade conhecida’: priorize produtos que você conhece

O professor Carlos Honorato afirma que o investidor deve ter em mente que volatilidade não é a mesma coisa em todo mercado. Em momentos de oscilações maiores, como o atual do tarifaço, o ideal é que o investidor priorize produtos e mercados conhecidos por ele. Ou seja, que ele sabe como reagem e quais oportunidades existem ali.

“É importante priorizar a volatilidade conhecida”, diz. “Costumo sugerir que você priorize ativos que você conheça. Se o investidor for um especialista em FDIC, em dólar, em ações, por exemplo. É possível que os preços das ações caiam e a bolsa fique barata, mas para avaliar você vai precisar conhecer minimamente esse mercado”, afirma Honorato.

Porto de Long Beach no estado da Califórnia, Estados Unidos
Porto de Long Beach no estado da Califórnia, Estados Unidos – Foto: Logan Voss/Unsplash

Diversificação é estratégia-chave e novos aportes são ferramenta útil

“O primeiro aspecto acaba sendo diversificar”, afirma Cristian Panizza, da Nippur. Para o economista, ativos importantes para compor as carteiras são os de renda fixa brasileira, onde há boas oportunidades para os investidores mesmo em caso de possível recessão global causada pelo tarifaço.

Panizza afirma que resgates em momentos ruins não são o ideal. Portanto, uma maneira de diversificar tanto na renda fixa quanto na renda variável seria usar os novos aportes, os valores de investimento mensal que virão adiante, para as oportunidades que se apresentem.

“Vejo uma carteira diversificada que assuma riscos de forma cautelosa, mas que mantenha uma certa parcela em caixa”, diz Galvão, mencionando como caixa os ativos que rendem de acordo com a taxa básica de juros.

Olho no longo prazo e nas características de cada investimento

Momentos de volatilidade por vezes representam um descolamento entre os preços de ativos e o que de fato eles valem. Por exemplo, o mercado de ações. Uma forma importante de o investidor pessoa física se posicionar é procurando avaliar cautelosamente as características de cada investimento e traçar uma perspectiva de longo prazo para os rendimentos.

“É o momento de manter uma perspectiva um pouco mais conservadora e focar no estrutural, na alocação no longo prazo. Não é uma crise conjuntural, é um choque por uma política econômica momentânea. A incerteza é muito grande”, afirma Cristian Panizza.

O mesmo vale para quem observar cotações de ações que possua na carteira derretendo neste momento. “Quem ver os portfólios de ações caírem não deve se desesperar, porque a bolsa é feita de ciclos. A pessoa precisa pensar se ela consegue aguardar essa recuperação”, comenta o professor Carlos Honorato.

O investidor deve se orientar, diz Honorato, por seus princípios e objetivos. Se ele busca se proteger da inflação, mantendo seu poder de compra, os títulos de longo prazo IPCA+ continuarão sendo interessantes. Isso uma vez que o objetivo seguirá sendo atendido, explica, mesmo que momentaneamente exista uma oscilação.

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