O cérebro, o estômago e as emoções do investidor em tempos de volatilidade

Como diria Peter Lynch, um dos mais reputados investidores no mundo, 'no mercado financeiro, o órgão mais importante não é o cérebro, mas sim o estômago'
🤖 Leia o resumo feito pelo Flash, nossa ferramenta de Inteligência Artificial
  • Mercados em queda afetam finanças e emoções, exigindo conhecimento e resiliência.
  • Reações de medo, como ‘luta ou fuga’, levam a decisões precipitadas.
  • Diversificação e assessoramento profissional ajudam a navegar em momentos de instabilidade.
  • Um plano financeiro bem estruturado resiste a crises; 95% dos retornos dependem da alocação de ativos.
  • Independente do perfil, manter o planejamento é crucial; o tempo no mercado importa mais que o ‘timing’.
  • Diversificação geográfica, especialmente em ativos de qualidade em países desenvolvidos, reduz riscos.
  • A calma e foco em objetivos de longo prazo são essenciais para superar a volatilidade.
LER RESUMO

Quando as manchetes anunciam mercados em queda ou recessão econômica é fácil se sentir confuso e sem saber o que fazer. Uma crise financeira afeta não apenas as nossas contas bancárias, mas também as nossas emoções, julgamento e resiliência. O modo como nos comportamos durante esses momentos é moldado tanto pelo nosso conhecimento financeiro quanto pela forma como nosso cérebro funciona, dada a sua estrutura e evolução.

Imagine que, há milhares de anos, seres humanos andavam pela savana quando ouviram um barulho atrás de uma árvore. Dentre eles, sobreviveu aquela pessoa cujo cérebro entrou em um sistema de fight-or-flight (luta ou fuga), desencadeando uma série de reações provocadas pela amígdala, como o aumento do batimento cardíaco, uma respiração mais ofegante, o suor nas mãos, músculos tensionados, além daquele característico frio no estômago que todos nós conhecemos tão bem.  

Essa pequena estrutura em forma de amêndoa do sistema límbico do cérebro desempenha um papel central no processamento do medo e outras respostas emocionais. De uma perspectiva evolucionária, as amígdalas ajudaram na sobrevivência dos nossos ancestrais diante de ameaças. Só que essa mesma reação, incrivelmente útil no passado distante, no mundo moderno pode ser uma faca de dois gumes.

Crises financeiras desencadeiam reações de medo semelhantes. Notícias ruins sobre a economia ou mercado podem nos causar ansiedade, estresse e até pânico. Infelizmente, essa resposta primária do nosso corpo frequentemente nos leva a tomar decisões precipitadas e emocionais, como vender no prejuízo e paralisar novos aportes de investimentos.

Diversificação

Uma carteira bem diversificada, com ativos de qualidade e contando também com a ajuda de um assessor qualificado, pode ajudar o investidor a passar melhor por essas épocas de instabilidade no mercado.

Dispor do auxílio de uma pessoa de fora pode ajudar a enxergar o panorama geral, quando os instintos nos levam a decisões reativas. Segundo pesquisa da gestora Vanguard, a diferença no rendimento médio entre uma carteira de um cliente assessorado versus o portfólio de um cliente não assessorado é de, pelo menos, 3% ao ano. Curiosamente, a maior parte desse excesso de retorno advém do papel do especialista financeiro como behavioral coach, ou seja, uma espécie de terapeuta financeiro que regula as emoções do seu cliente em ocasiões de crise e de euforia.

Adicionalmente, lembre-se que um plano financeiro bem estruturado é projetado para resistir a tempestades. De acordo com artigo de Gary P. Brinson, L. Randolph Hood and Gilbert L. Beebower o retorno de um portfólio pode ser desdobrado em três principais componentes:

  • seleção entre classes de ativos, envolvendo decisões como quanto investir em renda fixa e variável;
  • market timing, ou seja, quando entrar e sair do mercado; e
  • seleção de ativos dentro de uma classe, como escolher a ação X ou Y e o bond Z ou W.

Ainda segundo o estudo, cerca de 95% dos rendimentos de uma carteira são definidos pela seleção entre classes de ativos, algo intrinsicamente ligado ao perfil do cliente. Isto é, se você diversificou os seus investimentos de forma adequada, confie no processo e continue seguindo-o à risca.

Em resumo, tempos de incerteza não preocupam, por exemplo, uma pessoa mais conservadora que tem uma carteira primordialmente em renda fixa e se sente tranquila com sua parcela internacional alocada em títulos americanos de curto prazo.

Turbulências não devem tirar o sono do investidor

Da mesma forma, turbulências não tiram o sono de um investidor mais agressivo, focado em ações e que vê o momento como uma oportunidade para a compra de ativos a preços mais baixos.

Segundo o JP Morgan, um investimento de US$ 10.000 no S&P 500 feito no início dos anos 2000 resultaria em um montante de US$ 70.274 ao final de 2024. No entanto, um investidor teria um ganho 54% menor, acumulando somente US$ 32.195, caso tivesse perdido os dez melhores dias nesse prazo, que totalizou cerca de 6.300 pregões.

Caso esse mesmo investidor tivesse perdido os 30 melhores dias do período, os US$ 70.274 seriam reduzidos a US$ 12.162. Além disso, sete desses dez melhores dias, no intervalo de tempo entre 1o de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2024, ocorreram próximos aos piores dias registrados no mercado, corroborando tanto a ideia de se manter investido quanto de seguir o planejamento de frequência dos aportes.

Por fim, situações como de incerteza reforçam também a importância da diversificação geográfica de investimentos, mantendo-se um determinado percentual do patrimônio em países desenvolvidos e em ativos de qualidade.

Instabilidades e turbulências em economias centrais, como os Estados Unidos, costumam impactar diretamente os mercados emergentes, como o Brasil. Em crises passadas, como a Bolha da Internet, o Subprime de 2008 e a pandemia do covid-19, o dólar se valorizou frente ao real e a renda fixa americana de curto prazo protegeu a carteira dos investidores.

Novos sobressaltos com a guerra comercial de Trump

Os mesmos efeitos têm se repetido nestes últimos dias de volatilidade provocada pelo tarifaço.

Ou seja, investidores brasileiros que buscaram a preservação de seu capital em moeda forte tiveram retornos superiores em alocações de títulos do governo americano do que brasileiros.

Note que essa instabilidade atual não é novidade para os EUA.

Afinal, nos últimos 100 anos, o país enfrentou inúmeros eventos extremos — guerras, recessões, inflação elevada, ataques terroristas e escândalos políticos — e sempre saiu mais forte.

Em um mundo financeiro moderno e complexo, a decisão mais inteligente nem sempre é a mais rápida. Portanto, mantenha a calma, continue com os seus objetivos de médio e longo prazo em mente e aproveite as eventuais oportunidades.

A volatilidade vai passar ​​e, com o comportamento certo, você estará em uma posição mais forte quando tudo isso acabar.

Como diria Peter Lynch, um dos mais reputados investidores no mundo, “no mercado financeiro, o órgão mais importante não é o cérebro, mas sim o estômago.”

Leia a seguir

Pular para a barra de ferramentas