Tarifaço de Trump traz risco de estagflação ao Brasil, diz ex-presidente do BC

Brasil corre risco de ter crescimento reduzido sob inflação persistente, diz Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central

O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse na noite de sexta-feira (11), durante evento promovido pela Fami Capital, que a economia do Brasil corre o risco de manter-se sob taxa de inflação resiliente. E, ao mesmo tempo, pode desacelerar mais, em decorrência da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Campos Neto afirma que isso pode configurar um cenário de estagflação no Brasil. Neste cenário, além da alta generalizada dos preços, a atividade econômica desaquece e o desemprego aumenta.

Para Campos Neto, as novas tarifas de Trump são apena um meio de proteger a indústria americana e estimular a entrada de capital nos Estados Unidos.

“Mas não temos evidência de que isso funciona”, disse o ex-presidente do BC.

Segundo ele, o tarifaço não traz motivo para “cortes de juros estruturais no Brasil”.

Tarifaço é ‘inflacionário’ e Brasil poder ver estresse no crédito

Apesar de provocar queda nos mercados globais e nos preços de commodities, Campos Neto afirma que o tarifaço de Trump pode aumentar a inflação no mundo.

O ex-presidente do BC avalia que o conjunto de medidas comerciais do governo Trump, por enquanto, vem provocando perda de credibilidade na economia dos Estados Unidos.

“Imaginávamos que Trump iria pela via de reciprocidade ao invés de proteger a indústria dos EUA, mas não conseguimos entender a proposta do tarifaço”, disse Campos Neto.

Para o Brasil, a aversão ao risco dos mercados vem pelo sistema de crédito financeiro, afirmou.

Nesse sentido, uma alta da inflação poderia ser compensada por um esfriamento em linhas de crédito. O que por sua vez gera uma desaceleração nos negócios e investimentos.

Guerra comercial não deve provocar ‘queda estrutural’ na Selic

Mesmo que ative o modo de aversão à risco em investidores, a guerra comercial não é suficiente para baixar a Selic no Brasil, diz o ex-presidente do BC.

Juros só devem sofrer cortes, de forma a reduzir o patamar da Selic, se o Brasil diminuir o déficit fiscal. Hoje, o déficit nominal, que considera despesas e receitas do governo mais o percentual financiado em juros, está próximo de 9%, diz Campos Neto.

“O Brasil continua com patamar de dívida nominal muito alto para países emergentes”, ponderou.

Na visão de Campos Neto, é necessário “criar uma porta de saída de programas de transferência de renda” e aumentar produtividade por meio de injeção de capital privado.

“O Banco Central está fazendo o trabalho correto, mas para ter uma queda de juros estrutural no Brasil, é preciso ter uma queda na percepção de risco sobre as contas públicas.”

Sem equilíbrio via ajuste fiscal, por fim, Campos Neto entende ser “muito difícil” o Brasil conviver com taxas de juros menores por mais tempo.

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