Exclusivo: Escalada da Selic piorou fiscal no Brasil desde aumento de rating, diz Moody’s
A escalada da taxa de juros Selic nos últimos meses deteriorou o quadro fiscal do Brasil, que agora está em situação pior do que quando a Moody’s elevou a nota de crédito do País, em outubro de 2024.
Este foi o recado que a analista sênior de ratings soberanos da Moody’s, Samar Maziad, deu para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em encontro, na semana passada, em Brasília.
“A deterioração fiscal é um fator chave aqui”, disse a executiva da agência de classificação de risco, em entrevista à Inteligência Financeira, no escritório da Moody’s, em Nova York.
Segundo ela, o cenário de juros teve uma mudança dramática, o que não estava no horizonte da avaliadora de risco de crédito em outubro passado. Naquele momento, o Brasil estava a apenas um nível abaixo do chamado grau de investimento, ou baixo risco de calote.
Desde setembro, contudo, a Selic subiu por seis vezes consecutivas, de 10,5% para 14,75% ao ano. Agora, está no maior patamar em 19 anos.
No mercado, alguns economistas acreditam que o Banco Central pode ainda elevar a taxa básica para 15% em junho, ficando nesse patamar por vários meses, antes de iniciar um ciclo de queda.
Para Samar, isso aconteceu porque “a efetividade da política monetária não foi tão forte quanto deveria”.
Dito de outra forma, para controlar a inflação, o BC está tendo que subir o juro mais do que imaginava.
Ao aumentar a Selic em mais 0,5 ponto, na semana passada, o BC mostrou preocupação, sobretudo com a inflação de serviços. O BC frisou que a inflação de serviços segue muito alta. Além disso, as expectativas do mercado ainda estão desancoradas. Isto é, a inflação segue acima da meta de 3%, com intervalo de tolerância de mais ou menos 1,50 ponto percentual.
Como consequência dos juros mais altos, o governo federal paga ainda mais caro pelo serviço da dívida. Nas contas da Moody’s, o pagamento de juros da dívida vai consumir quase R$ 1 trilhão em 2024. O montante corresponde a cerca de 21% das receitas totais esperadas pelo governo para o ano.
O que para a Moody’s pode fazer o rating do Brasil melhorar ou piorar
De todo modo, Samar defende a avaliação da agência e nega que a Moody’s tenha se equivocado ao elevar a nota brasileira.
“Talvez repetiríamos essa decisão hoje”, afirmou ela.
Para Samar, o Brasil vem mantendo um dinamismo econômico continuado desde a pandemia, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo acima de 2,5% ao ano, em média, o que é uma fortaleza para o rating do país.
Esse desenvolvimento reflete em parte a sucessão de reformas estruturais aprovadas no país na última década (trabalhista, previdenciária e tributária, entre outras), que tiveram como consequência um aumento do crescimento econômico potencial do país.
A executiva também vê a economia brasileira, comparativamente, menos exposta aos efeitos negativos de uma guerra comercial internacional, pelo fato de ter um mercado relativamente mais fechado.
Contudo, o crescimento econômico pode não ser suficiente para manter o País na trilha do grau de investimento.
“A rigidez das despesas públicas (despesas obrigatórias) dificulta a redução dos gastos”, diz ela, frisando o recado que deu em seu último relatório, de abril, de que o País precisa ter uma “política fiscal mais ambiciosa”.
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