Chegou a hora de Galípolo tomar as rédeas do Copom e sinalizar os rumos da Selic

Mercado financeiro quer saber até onde vai a escalada dos juros no Brasil

Gabriel Galípolo (atual presidente do Banco Central) e Roberto Campos Neto (ex-presidente do BC) durante apresentação do Relatório Trimestral de Inflação. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
Gabriel Galípolo (atual presidente do Banco Central) e Roberto Campos Neto (ex-presidente do BC) durante apresentação do Relatório Trimestral de Inflação. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O Copom deve anunciar no começo da noite desta quarta-feira (19) um novo aumento de 1 ponto percentual da Selic, de 13,25% para 14,25% ao ano. Dessa forma, a taxa básica de juros da economia brasileira atingirá o maior nível desde outubro de 2016, na crise marcada pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Se a decisão em si já é amplamente esperada pelo mercado financeiro, as atenções estarão concentradas no comunicado do comitê. Em suma, quais devem ser os próximos passos da política monetária no Brasil.

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Essa é a primeira vez sob a liderança de Gabriel Galípolo que o Copom precisará sinalizar o que vem pela frente. Isso porque as duas altas da Selic previstas nas duas primeiras reuniões de 2025 foram antecipadas no último encontro com Roberto Campos Neto no comando, em dezembro de 2024.

O que mudou de Campos Neto para Galípolo?

O guidance dado na despedida de Campos Neto foi visto pelo mercado como uma forma de dar tempo e tirar a pressão na chegada de Galípolo à presidência do Banco Central. Nesse período de transição, a desancoragem das expectativas de inflação piorou, os agentes alertaram para o risco de dominância fiscal e o dólar bateu R$ 6,30.

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Ao mesmo tempo, a precificação dos juros no mercado futuro superou 16%.

Mas o Copom chega para a decisão desta quarta com um quadro menos adverso, com os agente até mesmo antevendo o fim do atual ciclo de alta da Selic.

Levantamento do Bank of America (BofA) com 33 casas da América Latina que possuem cerca de US$ 70 bilhões em ativos sob gestão mostra que apenas 15% delas veem a taxa acima de 15% agora. Esse percentual era de 44% em fevereiro.

a posição majoritária (67%) é de que a Selic fique no intervalo entre 14,25% e 15%.

Itaú: câmbio ajuda, mas não resolve

Para Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, essa reunião acontece em meio à discussão sobre potenciais pontos de inflexão que podem ter implicações relevantes para a dinâmica de preços e o balanço de riscos em torno da inflação.

E que, acrescenta Mesquita em relatório, dizem respeito justamente aos fatores que o comitê afirmou que monitoraria à frente: atividade econômica, câmbio (repasse cambial) e expectativas de inflação.

“Começando pelo fator que teve evolução mais benigna, o movimento global de enfraquecimento do dólar contribuiu para trazer a cotação do real de R$ 6,00/USD na última reunião para R$ 5,80 na média dos últimos 10 dias”, destaca o banco.

No que diz respeito à atividade econômica, o economista do Itaú aponta que dados do 4º trimestre (inclusive o PIB) registraram desaceleração mais intensa do que se esperava. Essas divulgações, aliadas à comunicação recente, tiveram efeito relevante sobre a precificação de mercado para os próximos movimentos de juros.

Adicionalmente, no fronte das expectativas de inflação, após rodadas consecutivas de deterioração, o Boletim Focus vem mostrando sinais de estabilização. Apesar de uma melhora de dinâmica com relação ao passado recente, Mario Mesquita avalia que ainda permanece um grau relevante de desancoragem.

“O ritmo de deterioração das expectativas de inflação dá sinais marginais e erráticos de desaceleração, e a apreciação da moeda desde a virada do ano reduz riscos altistas à frente. Contudo, dada a grande distância da inflação e das expectativas em relação à meta e os sinais ambíguos da atividade econômica, deixar, na comunicação do Copom, a porta aberta para o final do ciclo de ajuste implicaria correr demasiado risco inflacionário“, afirma Mesquita.

“Tal mudança de postura, dado o conjunto de informações disponível hoje, provavelmente seria percebida como algo motivado pela preocupação em defender a atividade econômica, em detrimento do controle inflacionário, o que é inconsistente com o mandato determinado pelo regime de metas para a inflação”, considera o economista-chefe do Itaú.

O banco cortou nesta semana a estimativa da Selic no fim do ciclo de 15,75% para 15,25%. Além da nova alta de 1 ponto percentual, o Copom deve fazer mais dois aumentos de 0,50 ponto percentual nos próximos dois encontros, projeta a instituição.

BTG: comunicação sem guidance

Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual, escreve que o anúncio do Copom desta quarta não tem margem para qualquer outra decisão senão seguir o forward guidance, elevando a taxa Selic para 14,25%. Para ele, o comitê “tem a tarefa de manter uma comunicação hawkish (mais dura) renovando, ou não, explicitamente as próximas decisões da política monetária.”

“O quadro macro é de uma atividade ainda forte, mas que pode estar em inflexão sem impacto, até o momento, nos preços. No intermeeting, alguns diretores comentaram que os sinais para a atividade econômica são mistos e, portanto, não há como afirmar se há uma tendência de desaceleração”, anota.

“Logo, se não há clareza sobre esta inflexão em um ambiente de forte desancoragem das expectativas de inflação, a decisão mais prudente para um comitê implicitamente data dependent seja uma comunicação bastante dura e sem antecipações explícitas sobre os passos futuros. Desta forma, o BC poderia conquistar, concomitantemente, credibilidade e graus de liberdade”, afirma Frasson.

Então, para o BTG, o ciclo de alta de juros deve continuar. O banco segue a previsão de Selic terminal em 15,25%.

“Esperamos mais duas altas de 0,50 ponto até o momento, por entender que a forte desancoragem das expectativas de inflação preponderam em um ambiente de elevada incerteza, tanto no cenário externo em razão dos efeitos imprecisos dos choques tarifários, quanto no ambiente doméstico pelas indefinições se novas medidas de crescimento econômico aparecerão”, explica o economista.

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