Morte do Papa Francisco: veja o que acontece agora e como será o processo de sucessão

A morte do Papa, aos 88 anos, ocorreu após ele passar semanas no hospital no início deste ano para tratar uma grave pneumonia

O Papa Francisco morreu na manhã desta segunda-feira (21), informou o Vaticano, encerrando um pontificado de 12 anos que marcou a Igreja Católica, desafiando ensinamentos tradicionais sobre temas que vão do divórcio à homossexualidade, e dando início a um processo de sucessão que provavelmente se concentrará na continuidade de seu legado progressista.

A morte do Papa, aos 88 anos, ocorreu após ele passar semanas no hospital no início deste ano para tratar uma grave pneumonia. Sua saúde permaneceu frágil após seu retorno à sua residência no Vaticano.

Francisco morreu às 7h35 da manhã de segunda-feira, horário local, disse o camerlengo do Vaticano, Cardeal Kevin Farrell.

“Com profunda tristeza, devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco”, disse o Cardeal Farrell, cidadão americano que agora presidirá o Vaticano até que um novo papa seja eleito. “Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.”

Francisco fez sua última aparição pública no domingo de Páscoa, quando abençoou uma multidão reunida na Praça de São Pedro e, em seguida, foi levado pela praça em seu papamóvel conversível. Ele também se encontrou brevemente com o vice-presidente JD Vance no domingo.

A morte do Papa levará, após um período de luto, a um conclave ou reunião de cardeais no Vaticano para eleger um novo líder para a Igreja Católica global e seus estimados 1,4 bilhão de fiéis.

Francisco retornou ao Vaticano no fim de março, após passar várias semanas no hospital Gemelli, em Roma, onde foi tratado de uma infecção pulmonar grave e complexa. Seus médicos disseram que ele quase morreu no hospital em mais de uma ocasião. Francisco permaneceu visivelmente frágil após receber alta, fazendo apenas algumas aparições públicas.

Repercussão da morte do Papa Francisco

As primeiras reações de líderes mundiais destacaram a defesa do Papa pelos pobres, pela justiça social, pela proteção ambiental e pelo fim das guerras na Ucrânia, Gaza e outros lugares.

“Ele pediu ao mundo… a coragem de mudar de direção, de seguir um caminho que ‘não destrói, mas cultiva, repara, protege’”, disse a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. “Caminharemos nessa direção, para buscar o caminho da paz, buscar o bem comum e construir uma sociedade mais justa e equitativa. Seus ensinamentos e seu legado não serão perdidos”, disse ela.

“Um homem de fé profunda e compaixão sem limites, ele dedicou sua vida a ajudar os pobres e a clamar pela paz em um mundo conturbado”, disse o presidente israelense Isaac Herzog sobre Francisco no programa X. “Espero sinceramente que suas orações pela paz no Oriente Médio e pelo retorno seguro dos reféns sejam atendidas em breve”, disse Herzog, referindo-se aos prisioneiros israelenses restantes em Gaza.

“Meu coração está com os milhões de cristãos em todo o mundo que o amavam”, disse Vance no X. “Fiquei feliz em vê-lo ontem, embora ele estivesse obviamente muito doente.”

Vance disse que sempre se lembrará do papa por uma homilia “realmente belíssima” que ele proferiu nos primeiros dias da pandemia de covid-19, na qual Francisco confortou os fiéis em um momento de medo e incerteza.

O Papa argentino sofreu repetidamente com infecções pulmonares nos últimos anos, bem como outros problemas de saúde que o obrigaram a usar cadeira de rodas, mas insistiu em manter uma agenda intensa de audiências, missas e viagens ao redor do mundo.

Ele continuou a participar de eventos ao ar livre em clima frio e úmido no início deste ano, apesar do início de bronquite, que evoluiu para pneumonia. Às vezes, ele não conseguia ler seus sermões e homilias, e assessores tinham que completar seus discursos por ele.

Após sua internação no hospital em 14 de fevereiro, seu estado de saúde passou por altos e baixos, e seus médicos alertaram que sua idade avançada e a combinação de condições crônicas com infecções agudas o colocavam em grave perigo. Mesmo assim, ele se recuperou o suficiente para deixar o hospital em 23 de março.

Conclave para a escolha do próximo Papa

Cardeais de todo o mundo serão em breve convidados a se reunir no Vaticano. Antes de votarem no conclave, uma das eleições mais secretas do mundo, eles se reunirão para debater a direção e as prioridades da Igreja sob o comando do próximo Papa. Durante esse processo, o apoio normalmente se concentra em torno de alguns candidatos importantes.

Católicos de todo o mundo estarão atentos para ver se o conclave escolherá um sucessor que mantenha o legado de Francisco ou se aproxime de um pontificado mais tradicional.

Francisco rompeu em estilo e substância com seus dois antecessores conservadores, o Papa Bento XVI e São João Paulo II. Ele injetou uma nova informalidade no papado, adotou posições mais brandas em questões como homossexualidade, contracepção e divórcio, e enfatizou tópicos sociais e políticos como pobreza, mudanças climáticas e os direitos de migrantes e refugiados.

Embora tenha feito poucas mudanças na doutrina católica, o papo Francisco encorajou um debate mais amplo entre o clero.

Como será o funeral do Papa Francisco

O mundo se prepara a partir desta segunda-feira para dar adeus a mais um Papa. A morte de Francisco inicia tanto o processo de sucessão quanto os preparativos para o funeral do Pontífice. A despedida se dá por meio de um rito que foi simplificado pelo próprio líder da Igreja no ano passado.

A morte do Papa é verificada e oficializada pelo Camerlengo, o administrador de propriedades da Santa Sé durante a vacância do cargo — atualmente, o cardeal irlandês Kevin Cardinal Farrell. O cerimonial envolveu chamar o Papa pelo nome de batismo três vezes. Sem resposta, a morte foi declarada e oficializada à Igreja e ao público geral.

Em paralelo às tratativas do conclave — a eleição do sucessor —, iniciam-se os preparativos para o funeral. O Papa deve ser enterrado entre quatro e seis dias após sua morte. O luto oficial da Igreja é de nove dias.

Entre abril e novembro de 2024, Francisco atualizou o “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”, o livro litúrgico que regulamenta os procedimentos do funeral papal. Foram feitas mudanças no passo a passo do cerimonial pelo último Papa, postas em prática agora com a sua morte.

Falecimento a verificação da morte não aconteceu mais no quarto do Papa, mas em uma capela privada, para onde foi levado vestido com uma batina branca e onde um Camerlengo, outras autoridades do Vaticano e membros da família do Papa participaram de uma cerimônia; após a confirmação da morte, o corpo do Pontífice foi depositado diretamente em um único caixão, de madeira e zinco, e não mais sob a exigência anterior de que fosse envolvido por três caixões (de cipreste, chumbo e carvalho).

É nele que Francisco será enterrado; depois da cerimônia na capela, o Camerlengo redigiu um documento autenticando a morte do papa, no qual afixou o relatório médico.

Ele então atuou para proteger os documentos privados do Pontífice e selou seus apartamentos, uma ampla seção no segundo andar da Casa Santa Marta, residência de hóspedes da Cidade do Vaticano, onde Francisco viveu durante seu papado; o Camerlengo também procedeu para destruir o chamado anel do pescador, usado pelo Papa para selar documentos com um martelo cerimonial para evitar falsificações.

Missa e sepultamento

A Assembleia de Cardeais decidirá a data e a hora em que o corpo do papa será levado para a missa exequial na Basílica de São Pedro, em uma procissão liderada pelo Camerlengo e na qual o corpo do papa no caixão começará a ser visto; o corpo será exposto ao público somente no caixão e não mais num pedestal elevado, como foi feito com os antecessores João Paulo II e Bento XVI; a cerimônia, como de praxe, terá a presença de chefes de Estado e de governo; ao fim da missa e da exibição do corpo, haverá o sepultamento; o rosto do papa será coberto por um véu de seda branco e será enterrado com uma bolsa contendo moedas cunhadas durante seu papado e uma vasilha com um “rogito”, ou escritura, listando brevemente detalhes de sua vida e papado.

O rogito é lido em voz alta antes de o caixão ser fechado; nos nove dias posteriores à missa exequial, haverá missas em sufrágio ao Papa, as chamadas novendiais. Outra alteração proposta por Francisco, que parte também de uma vontade pessoal, é a flexibilidade do local do sepultamento.

Contrariando uma tradição que vem desde 1903, ele será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore e não na Basílica de São Pedro. Em entrevista ao site mexicano N+, em 2023, ele explicou que tem forte conexão e devoção pelo local. Por lá, antes de se tornar Papa, ele rezava em frente à “Salus Populi Romani”, ícone (pintura em madeira) que retrata a Virgem Maria com o menino Jesus.

A predileção continuou até os seus últimos dias como Papa: era onde rezava antes e depois das viagens. “É minha maior devoção. O local já está preparado”, disse Francisco na entrevista.

A reforma nos procedimentos funerais foi uma iniciativa de Francisco e uma necessidade após o falecimento de Bento XVI, em 2022, que obrigou a Igreja a realizar o primeiro funeral de um Papa emérito em seis séculos. Ou seja, a despedida de um Papa na presença de outro. A edição anterior do livro litúrgico era de 2000, no papado de João Paulo II.

“Fez-se necessária uma nova edição pois o Papa Francisco pediu, como ele mesmo declarou em diversas ocasiões, para simplificar e adaptar alguns ritos de forma que a celebração das exéquias do Bispo de Roma expressasse melhor a fé da Igreja em Cristo ressuscitado. O rito renovado deveria enfatizar ainda mais que o funeral do Pontífice é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não de uma pessoa poderosa deste mundo”, explicou o arcebispo Diego Ravelli, mestre de cerimônias litúrgicas dos pontífices, ao Vatican News, em novembro do ano passado.

Com informações do Valor Econômico

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