Lição de liderança: o hit cristão ‘The Chosen’ na visão de executivos de inovação e marketing

Executivos veem em 'The Chosen' referências de liderança e e estratégias de negócio úteis para o mundo corporativo

No início de março, um evento com Dallas Jenkins, criador da série cristã ‘The Chossen’, lotou todas as salas de um cinema na zona oeste de São Paulo. Na plateia, além de pastores, lideranças religiosas e influenciadores estavam executivos de empresas, que ouviram Jenkins e assistiram com exclusividade ao primeiro episódio da nova temporada.

‘The Chosen’ nasceu como um projeto de financiamento coletivo, ganhou os streamings e se tornou um hit, especialmente no mundo gospel. A série já foi vista por mais de 250 milhões de pessoas ao redor do mundo, de acordo com a produção. O Brasil é o segundo país que mais viu a série, atrás apenas dos Estados Unidos.

A nova temporada da produção, ‘The Chosen: Última Ceia’, estreou nos cinemas nesta quinta-feira (10), com a exibição dos dois primeiros episódios. A data não foi escolhida à toa, uma vez que estamos na iminência da Páscoa, o período retratado nesta etapa da produção. Em 2024, a quarta temporada também estreou primeiro nos cinemas, com a venda de 1 milhão de ingressos no Brasil.

A Inteligência Financeira conversou com dois executivos brasileiros, ambos do mercado de inovação, que afirmam se inspirar na produção não apenas por conta da religião ou do entretenimento, mas como referência para os negócios.

The Chosen‘ retrata a vida de Jesus Cristo (interpretado por Jonathan Roumie) a partir dos escritos bíblicos atribuídos aqueles que são “os escolhidos” (tradução em português do título da série). Ou seja, dos relatos dos apóstolos, que são todos também personagens presentes nas tramas da produção.

Série é referência para líderes

Thiago Hipólito, diretor sênior de inovação da 99, esteve presente na sessão com Dallas Jenkins. Para o executivo, a série indica um movimento em busca de uma referência de liderança. E por liderança, claro, Hipólito está falando do personagem principal da série.

“Eu trago muito do que eu vejo para a minha vida de executivo. Jesus na série tem um propósito e uma visão clara. É respeitoso e transparente. E, assim, faz uma liderança inspiradora e não imposta”, afirma Hipólito à Inteligência Financeira.

O diretor da 99 vai além para mencionar algo específico que passou a refletir após acompanhar a produção.

“Me chama a atenção que Jesus é muito transparente, mas quando você vê a relação dele com os discípulos nem todo mundo sabe de tudo”, afirma. “Cada um contribui de uma maneira e Jesus conta coisas adicionais apenas para as pessoas que precisam saber delas. Cada um tem a sua tarefa”, completa.

Hipólito não nega que o aspecto religioso seja parte importante da experiência, mas avalia que o sucesso de ‘The Chosen’ possa ser atribuído ao fato de que, para ele, a produção tem apelo para praticantes de outras crenças. Na perspectiva do mundo corporativo, ele vê a possibilidade de correlação do que vê na produção com a execução de um projeto.

“Você ser incansável na execução, lidando com pessoas muito diferentes, é muito necessário em uma área de inovação. De acordo com as circunstâncias, com o que vai acontecendo, o personagem adapta o que vai fazer a seguir sem perder a visão de longo prazo”, avalia.

Contar diferente uma história conhecida

Marina Lima é a content marketing lead para o Brasil da ManyChat, plataforma multinacional de chatbots para empresas. Convidada para participar do evento em São Paulo, Lima não pode comparecer porque estava na edição de 2025 do SXSW, em Austin, no Texas.

A executiva é fã de ‘The Chosen’ embora tenha se afastado do contexto religioso. Se considera cristã, mas encerrou a vivência na Igreja Católica que a acompanhou na adolescência. Para Lima, a série se tornou referência para o seu trabalho por conta da capacidade de storytelling.

“Me impressionou o storytelling, a forma como o personagem (Jesus) foi construído, como se contou de uma forma nova essa história que muitos conhecem”, afirma ela, destacando que vê uma representação muito humana da figura religiosa, até descontraída em alguns momentos. “Eu sairia com ele para beber”, brinca a executiva.

Marina Lima destaca alguns pontos da produção que, na sua avaliação, são boas lições para o sucesso comercial. Um é a representatividade na escolha do elenco, que ampliaria a base de espectadores potencialmente representados.

E a outra é a aposta na emoção, que transforma quem assiste em promotor da série, uma boa tática de ‘conversão’, aqui uma expressão dúbia com significado tanto para o mundo dos negócios quanto para o religioso.

“A pessoa vai recomendar para todo mundo porque ela quer que todo mundo tenha o mesmo sentimento que ela teve. A tristeza não é compartilhável, mas a felicidade é. As pessoas se identificam muito pelos pontos ali da história. A partir do momento que você se empolga e fica feliz, você quer falar para as pessoas. Quem vende alguma coisa quer gestar essa satisfação”, diz ela.

Leia a seguir

Pular para a barra de ferramentas