Quase 50% da liquidez do FGC estariam em risco com possível quebra do Banco Master

O rápido crescimento de depósitos do Banco Master preocupa o mercado, representando quase metade da liquidez do FGC; aquisição do BRB ameniza o risco

O crescimento acelerado do Banco Master chama a atenção do mercado há anos, mas o ritmo de captações do segundo semestre de 2024 acendeu o sinal de alerta pelo potencial de problema que poderia acarretar para o sistema financeiro. O banco de Daniel Vorcaro terminou dezembro com um volume de depósitos com uma ordem de grandeza de R$ 50 bilhões, apurou o Valor. O montante equivale a quase a metade da liquidez do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de R$ 107,8 bilhões em dezembro.

Isso significa que, no caso hipotético de quebra do Master, boa parte da disponibilidade imediata do fundo iria para honrar os depósitos do banco — o que gerava tensão no setor.

As demonstrações financeiras do Master relativas à segunda metade do ano passado ainda não foram divulgadas. Em junho, dado mais recente disponível, o banco tinha R$ 40,6 bilhões em depósitos, quase tudo a prazo. O passivo total, incluindo os R$ 4,2 bilhões do patrimônio líquido, era de R$ 50,9 bilhões.

Na sexta, o Banco Regional de Brasília (BRB) anunciou acordo para adquirir 58% do capital total do Master por cerca de R$ 2 bilhões.

Cobertura do FGC em discussão

O FGC cobre depósitos no limite de R$ 250 mil por conta ou R$ 1 milhão por CPF – o que impulsionou a captação de bancos pequenos e médios no Brasil, sobretudo após a disseminação das plataformas de investimento. No fim de 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) limitou a garantia do FGC a seis vezes o patrimônio de um banco ou a 80% da captação total, numa tentativa de conter a corrida dessas instituições aos depósitos e a aplicação desses recursos em ativos arriscados. A aplicação da medida é gradual.

A preocupação no mercado se dava não apenas pela velocidade das captações do Master. O custo delas, que chegou a quase 19% ao ano em alguns momentos, e a dependência da distribuição das plataformas de investimento, como a XP, também eram acompanhados de perto.

A popularização das captações bancárias com cobertura do FGC gerou concorrência e chegou a afetar o custo de captação dos grandes bancos.

Ao mesmo tempo, o fundo garantidor – uma instituição privada – é mantido com recursos dos bancos associados. Na prática, as grandes instituições financeiras do país pagam boa parte da conta, como acontece nas estruturas semelhantes em boa parte do mundo. O objetivo do FGC é dar mais segurança ao sistema como um todo.

Há no Congresso Nacional um projeto de lei cujo objetivo é aumentar de R$ 250 mil para R$ 1 milhão o valor da cobertura do FGC. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) entrou em campo defendendo a medida publicamente em mais de uma ocasião, mas ela enfrenta a resistência das principais entidades ligadas ao setor bancário.

Pelas regras, o FGC precisa manter uma liquidez de 2,5% do total de depósitos elegíveis, com uma tolerância de 0,2 ponto percentual para mais ou para menos. Depois de cair para 1,95% em 2020, o indicador melhorou para 2,11% em 2021, 2,23% em 2022 e 2,28% em 2023. No primeiro semestre do ano, houve leve queda, para 2,27%.

Quando a liquidez fica fora da meta, o conselho do fundo pode pedir uma antecipação das contribuições, alterar alíquotas ou criar uma contribuição extraordinária. Por enquanto, nada disso foi feito. A avaliação é que a liquidez está melhorando e voltará à meta em breve. O aumento dos juros impulsiona a receita financeira do FGC e o fundo tem feito uma gestão de seus ativos, incluindo vendas de carteiras de instituições socorridas.

Com informações do Valor Econômico

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