Patrocínios na Europa são mais locais e diversificados enquanto Brasil depende de bets

Informações sobre patrocínios na Europa nos ajudam a entender cenário atual.

Estamos começando o processo de análise das informações econômico-financeiras dos clubes brasileiros de futebol. A análise era originalmente feita em nome do Itaú BBA e nos últimos três anos veio ao mercado com o nome de Relatório Convocados, em referência à consultoria em gestão de clubes da qual sou sócio.

O relatório é focado nos números dos clubes brasileiros, mas muitas análises têm como referência o que acontece no mundo. O futebol tem alcance global, as ligas mais bem estruturadas estão na Europa. É fundamental entender a dinâmica de expansão nos Estados Unidos e no Oriente Médio e tudo isso é levado em consideração quando traduzo os números para o leitor. E, claro, sempre há algum dado direto e relevante do mundo para contextualizar o Brasil.

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    Clubes ainda não divulgaram informações de 2024

    Por enquanto nossos clubes ainda não divulgaram nenhuma informação de 2024. Já se passaram 75 dias de 2025, os campeonatos estaduais estão praticamente encerrados, os clubes investirem cerca de R$ 1,8 bilhão apenas em contratações, ainda se comprometeram com volumes elevados de custos com atletas que ‘vieram de graça’. Mas ainda não sabemos como encerraram o ano passado.

    Ah!

    Já tem clube até em recuperação judicial. Enfim, é a falta de regulamentação que apenas joga contra a indústria.

    Por que eu disse isso?

    Porque enquanto não é possível entender o que se passa no Brasil, coletamos informações do mundo para podermos construir as linhas de raciocínio. E uma fonte importante é o relatório anual que a UEFA publica chamado Football Landscape.

    O documento apresenta uma visão geral sobre os países que operam na estrutura da confederação. É uma análise muito rica, coordenada pelo Sefton Perry, a quem tive o prazer de conhecer e visitá-lo em Nion, na sede da UEFA, quando estudava os modelos de fair play financeiro pelo mundo para desenvolvê-lo no Brasil.

    Receitas comerciais dos clubes europeus

    Vou aproveitar um dos inúmeros temas para desenvolver esta coluna: as receitas comerciais dos clubes europeus. Afinal, do grupo de receitas mais comum aos clubes – direitos de transmissão, bilheteria (matchday), comerciais e negociações de atletas – aquelas que um clube tem maior capacidade de ação são as com bilheteria (inclui sócio-torcedor, no Brasil), e comercias.

    O direito de transmissão é uma negociação dura e cujo impacto é de longo prazo. E a negociação de jogadores depende do clube, mas muito do interesse de outros clubes. Ou seja, depende de os clubes saberem vender suas marcas e criarem parcerias sustentáveis e de longo prazo.

    Apresentação de Kylian Mbappé no Real Madrid. Time espanhol foi apontado como o mais valioso do mundo. Foto: Divulgação/Real Madrid

    Pois bem, esta receita tem sido motivo de alegria para os clubes, com a chegada forte das casas de apostas – as bets – e de preocupação para quem enxerga nesse momento uma bolha. Vamos então usar algumas informações do relatório da UEFA para construir nossa visão sobre o tema.

    Os dados apresentados referem-se à temporada 2023/24 e vamos à tabela a seguir, que trata apenas dos patrocinadores masters, que são aqueles que ocupam a parte central da camisa das equipes:

    Overview das receitas comerciais no futebol europeu

    LigaPaís% de
    mantidos*
    Indústria
    mais comum
    % de sponsors domésticos
    Premier LeagueInglaterra65Betting10
    LaLigaEspanha82Aviação; Autos60
    BundesligaAlemanha88Telecom78
    Serie AItaília65Aviação; Autos; Alimentos e bebidas 60
    Ligue 1França73Serviços78
    1ª LigaPortugal80Betting83
    ErediviseHolanda73Betting89
    SuperLigTurquia56Aviação / Autos84
    Jupiter LeagueBélgica71Betting88
    Fonte: UEFA Football Landscape; (*) em relação a 2022 e 2023

    Patrocinadores masters dos clubes

    A primeira análise que fazemos é sobre o percentual de manutenção de patrocinadores masters nas equipes. Claro que isso depende muito do momento de cada clube e do mercado, mas é interessante observar que há boa recorrência nesse item.

    E alguns movimentos podem ser justificados:

    Na Inglaterra há um acordo entre os clubes da Premier League que as bets poderão ocupar a parte nobre das camisas apenas até a temporada 25/26. Depois, apenas as mangas. Isto gerou uma corrida das casas de apostas para conseguirem seus últimos dois anos de exposição na liga mais assistida no mundo.

    Por isso observa-se menor manutenção. Na Itália houve alterações, com a Juventus ficando sem patrocinador e outros clubes em final de contrato. Além disso, na Turquia há tradicionalmente mais movimentações que em outros mercados.

    Bets proibidas na Espanha

    Pois bem, outro tema é o das indústrias. Das cinco maiores, apenas na Inglaterra há presença mais relevante de bets, explicada no parágrafo acima.

    Na Espanha elas são proibidas de patrocinar eventos esportivos, assim como na Itália, que dá um jeitinho ao aceitar as marcas de ‘sites de notícias’ com o mesmo nome das casas de apostas, vide a Inter de Milão.

    Ainda assim, nessas ligas há maior presença de outras indústrias porque há mais exposição. Tanto a mercado interno quanto a mercado externo. Com mais interesse, maior o valor. E isso acaba reduzindo a capacidade de aporte das casas de apostas.

    Usemos a Premier League como exemplo. Ainda que a maior parte dos clubes tenha bets como patrocinador master, os seis grandes times possuem contratos com outros segmentos, como o de aviação, o financeiro e de tecnologia. Marcas maiores se associam a marcas maiores.

    Para entender
    São considerados os seis maiores times da Premier League o Liverpool, três clubes sediados em Londres (Arsenal, Chelsea e Tottenham Hotspur) e os dois times de Manchester, o United e o City.

    Qual é a origem dos patrocínios

    Agora, é interessante analisarmos a origem dos patrocinadores. No Brasil há uma discussão tola que cobra que os clubes tenham patrocinadores internacionais, grandes marcas, como se mundo todo fosse assim. Ledo engano e conversa de quem fala sem analisar a situação.

    Na tabela vemos que apenas na Premier League temos predominância de marcas internacionais, muitas delas casas de apostas. Nas demais ligas os principais patrocinadores são empresa e negócios locais. Na Premier é mais óbvio porque é o campeonato mais visto no mundo, enquanto nas demais a penetração relevante é a interna.

    E quando analisamos o mesmo comportamento no Brasil temos um momento parecido com o que vemos nas ligas menores: predominância de casas de apostas como patrocinadores principais, fruto de um mercado novo e da dificuldade de construção de relacionamentos de longo prazo com outras marcas.

    Inclusive, uma provocação importante: há uma discussão sobre eventual proibição de patrocínios de casas de apostas a eventos esportivos, mas será que aqueles que pedem isso estão dispostos a ocupar o espaço com o mesmo valor?

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    São Paulo FC é patrocinado por bet. Foto: Rubens Chiri/São Paulo Futebol Clube

    Estão dispostos a bancar o desenvolvimento esportivo no Brasil? Veja, não gosto de apostas, não aposto, mas deixamos a coisa desandar no controle do tema. E agora só corremos o risco de ficarmos sem esse dinheiro do dia para a noite.

    Para finalizar, o relatório da UEFA mostra que em 2024 os clubes locais conseguiram aumento de 12% nas receitas comerciais frente a 2022, e quando analisamos o mesmo dado para o Brasil, a partir do Relatório Convocados, o crescimento foi de 31%, percentual que tende a pelo menos se repetir em 2024.

    O futebol segue sendo uma grande fonte de divulgação de marca, mesmo num contexto em que a disputa por dinheiro e atenção é cada vez mais acirrada.

    Precisamos cuidar dessa indústria. 

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