O que preocupa o CEO da Casas Bahia (BHIA3)?

Renato Franklin admitiu que crescer com juro alto é difícil

A Casas Bahia (BHIA3) teve melhora de alavancagem operacional, com ganho de margem e menor pressão de despesas do negócio no quarto trimestre, mas entende que ainda há um trabalho a fazer na alocação de capital, para conseguir manter crescimento em vendas sem queimar caixa com excesso de estoques, disse o CEO, Renato Franklin.

A varejista ainda está num processo de reestruturação para melhorar a estrutura de capital e alocação de recursos.

Nos últimos dias, a ação da empresa chegou a quase dobrar, para mais de R$ 5, e hoje cai 7,7%, após a divulgação de balanço do quarto trimestre. Na visão da Genial Investimentos, apesar desse esforço da empresa, e mesmo com menor peso de despesas trabalhistas, a empresa ainda dá prejuízo.

“Resultado operacional melhora, mas o‘ bottom line’ ainda deixa a desejar”, disse em relatório. O prejuízo líquido caiu de R$ 1 bilhão no quarto trimestre de 2023 para R$ R$ 452 milhões no mesmo período de 2024.

Os dados do quarto trimestre mostram que a receita líquida com venda de mercadorias cresceu 6,6%, para R$ 8,1 bilhões, mas ainda cai 8,8% no ano, pressionado pelos trimestres anteriores. A margem bruta subiu 3,2 pontos, para 30,8%, um dos destaques do trimestre, na visão de analistas de bancos, puxada em parte pela rentabilidade de serviços vendidos e soluções financeiras.

Ainda conseguiu diluir mais despesas frente a receita (melhorou o peso da despesa na receita de 26% para 23,8% entre o quarto trimestre de 20223 e de 2024), após fechamento de lojas, de centros de distribuição e redução de pessoal (13 mil vagas fechadas em um ano e meio). E como reflexo de um trabalho anunciado há anos de diminuir o custo trabalhista no balanço — um ponto sempre de atenção nos relatórios de bancos sobre a rede.

“Caiu em 73% o legado de processos do passado, hoje temos 2,9 mil daquele volume passado, e a entrada de novas ações caiu de uma média de tíquete de R$ 300 mil para R$ 30 mil, vencendo 90% dos casos na Justiça”, diz o CEO .

Para tentar capturar a demanda que veio de fim de ano e ampliar participação de mercado, teve que elevar estoques de 76 dias um ano atrás para 91 no quarto trimestre de 2024. Esse é um ponto que merece foco maior da administração.

A questão é que isso pode consumir mais caixa num momento de juros altos e de reestruturação, em que a empresa ainda tem que ser mais rígida nesse controle.

“Não queremos estoque acima de 90 dias. Subimos para atender o consumo que veio. O desafio hoje é chegar a 80 dias, que acho nível bom, sem ruptura. O legado que a gente quer deixar é um trabalho melhor com ‘working capital’, que eu consiga ter 80 dias de estoque e cresça em vendas também”, disse Franklin, na empresa desde 2023.

“Crescer com juro alto é difícil, porque você tem que decidir onde investir, onde ter estoque, e distribuído de forma acertada nas mil lojas, e com a margem correta de cada produto, para melhor uso do caixa”, diz.

Para ele, crescer com estoque de mais de 100 dias é fácil, mas não se sustenta porque consome caixa, e um caixa que custa para a empresa hoje, não só pelo juros mais elevados, mas pelo processo de recuperação extrajudicial (RE).

A empresa está em RE desde metade de 2024, e esse plano envolve acordo com credores e a adoção de uma estratégia mais racional de crescimento.

Relatórios de analistas têm destacado, pelo lado positivo, a recuperação das lojas físicas (17%) e a aceleração do marketplace (24% de alta versus 18% de outubro a dezembro), mais do que compensando recuo de 10% na venda de produtos do próprio estoque da empresa, disse o relatório da equipe da XP.

“O Grupo Casas Bahia apresentou resultados mistos, com tendências de crescimento de receita e de rentabilidade, mas ainda pressionada pela alavancagem alta”, disse em relatório a equipe da XP liderada pela analista Danniela Eiger.

Sobre endividamento, Franklin diz que ainda é possível melhorar a relação equity e dívida.

Vale lembrar que, pelo plano com credores, os bancos podem transformar dívida em ações, e ainda há cerca de R$ 2 bilhões de crédito fiscal que podem ser monetizados. Franklin prefere não dar detalhes de como será esse movimento de monetização ou de acordos com bancos.

A empresa ainda abriu no balanço as condições da 10ª emissão de debêntures e os covenants da emissão, de três vezes a relação dívida líquida e Ebitda. Hoje, a relação da empresa está em 1,1 vezes, incluindo risco sacado e crédito direto ao consumidor.

O Valor apurou que a empresa decidiu detalhar o tema depois de informações circulando no mercado de que a companhia teria desrespeitado os covenants da emissão. Quando isso ocorre, credores podem pedir vencimento antecipado de dívida.

Segundo Franklin, novembro e dezembro foram fortes em demanda, a empresa reagiu a isso e teve ganho de quatro pontos de participação de mercado na Black Friday e em janeiro, com base em números da consultoria GfK. E para isso, teve que reforçar o estoque de produtos.

O grupo encerrou o estoque no quarto trimestre com aumento de R$ 342 milhões (15 dias) em relação ao ano anterior e redução de R$ 82 milhões frente ao terceiro trimestre.

Por conta disso, houve aumento no prazo de pagamento de fornecedores em dias, e isso ajudou a compensar essa pressão de estoques.

Passada a liquidação, a venda está em “bom” patamar, disse ele, mas o mercado todo desacelerou.

Franklin não vê efeito de uma queda na confiança do consumidor após aumento da inflação, apesar de confirmar reajustes de preços médios de 6% após a alta do dólar. Seu receio é aumento de taxa de desemprego, porque aí, “isso vai bater em confiança e na venda”, diz. “É nisso que está nossa atenção.”

Na visão de Franklin, o que tem ajudado a empresa nesse momento de juros em alta — e a empresa subiu taxa de juros ao consumidor — é o carnê em até 24 meses.

A Casas Bahia elevou a taxa de juros no carnê de 8,5% para 9,4% no quarto trimestre, mas vende no carnê em parcelas de 14 vezes, em média, e diz que inadimplência caiu mesmo com a alta nas taxas ao cliente.

A inadimplência que mede atrasos acima de 90 dias foi de 8,0%, melhor em 1,4 ponto frente a um ano atrás e menor em 0,4 ponto frente ao terceiro trimestre. Cerca de 76% da carteira de crediário está em dia, versus 73% há um ano.

*Com informações do Valor Econômico

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