Gerdau critica tarifas de Trump: acordos históricos são desfeitos

Jorge Gerdau critica as medidas protecionistas de Trump, que estão desfazendo acordos históricos e afetando a economia global, incluindo o setor siderúrgico brasileiro

Empresas citadas na reportagem:

As medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão provocando uma desarranjo na economia global, construída ao longo de décadas com base em acordos internacionais. A avaliação é do empresário Jorge Gerdau Johannpeter, que vê nas ações do líder americano uma possível tática de negociação.

A fala de Gerdau veio pouco antes dos governos dos EUA e do Reino Unido anunciarem o primeiro acordo na guerra tarifária que afeta o mundo todo. Pelo pacto firmado, na última quinta-feira, as montadoras britânicas terão uma cota de 100 mil carros com uma alíquota de 10% ao invés dos 25% anunciados inicialmente por Trump.

Na sexta-feira (9), o presidente americano deu um novo recuo afirmando que uma tarifa de 80% com a China “parece ser a correta”. No momento, a alíquota é de 145%.

A situação é similar ao que ocorreu no setor siderúrgico em 2018, quando Trump estava em seu primeiro mandato como presidente dos EUA.

Na ocasião, os governos de Estados Unidos e Brasil renegociaram o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e de 687 mil toneladas de laminados.

A medida flexibilizou decisão anterior de Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%.

Nos últimos anos, a tarifa estava em 10%. A decisão de Trump agora eleva a alíquota a 25% para todo o setor de siderurgia brasileiro. Gerdau explicou que o setor está em negociações com o governo brasileiro, mas ainda não é possível mensurar os impactos da medida. O desafio do setor é mostrar ao governo dos EUA que o aço brasileiro desempenha um papel complementar na sua indústria.

Já sobre sua siderúrgica, o empresário diz que a unidade brasileira, que tem acordos de exportação importantes, está sendo prejudicada, mas a companhia é também dona de uma operação relevante no mercado americano e, por isso, tende a ser beneficiada.

“Os Estados Unidos, tradicionalmente, eram grandes parceiros com algumas empresas. A Gerdau, dentro desse processo, sofre um impacto global do mercado de aço. Mas como nós temos uma equação internacional muito grande, nos Estados Unidos é o contrário.”

A companhia tem dito, em teleconferências com investidores e conversas com jornalistas, que já observa sinais de melhora em suas operações nos Estados Unidos, após o decreto Trump. Com 30% de capacidade ociosa no mercado americano, a siderúrgica vê espaço para ampliar a produção sem necessidade de novos investimentos.

A Gerdau (GGBR4) produz cerca de 4 milhões de toneladas de aço por ano. Se optasse por algum incremento de capacidade, a empresa poderia adicionar mais 1,5 milhão de toneladas à sua produção anual.

Outra preocupação do empresário é a entrada de aço chinês no mercado brasileiro. Empresas do setor, como Usiminas e a própria Gerdau, subiram o tom e ameaçam adiar ou suspender investimentos, caso o governo brasileiro não tome medidas antidumping contra o que eles consideram invasão do aço chinês.

Segundo o empresário, a China tem uma sobra de 100 milhões de toneladas de aço por ano devido à estagnação de obras da construção civil naquele país. Esse volume é quatro vezes a produção e consumo do Brasil que gira na casa dos 25 milhões anuais. Gerdau reclama que as siderúrgicas chinesas, boa parte delas estatal, colocam seu aço com preços subsidiados em outros mercados para manter empregos em seu país.

O governo brasileiro chegou a estabelecer uma regulamentação para limitar a importação de nove itens (NCMs, ou Nomenclaturas Comuns do Mercosul) do setor siderúrgico. As cotas de importação foram definidas pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), e o excedente estará sujeito a uma alíquota majorada de 25% no Imposto de Importação. Mesmo assim, o setor considera que foram medidas pouco eficientes e a escalada do aço chinês entrando no mercado nacional se mantém firme em 2025.

“Então, o que o mundo ocidental praticamente fez? Estados Unidos, México, Canadá e Chile impuseram proteções de 25%. Depois disso, toda a Europa fez também. Depois, inclusive, a Turquia fez, que é um grande produtor e exportador. Então, praticamente o mundo ocidental propôs essa proteção. E o Brasil é o país mais atrasado nesse processo de decisão. Hoje, nós parcialmente conseguimos, mas ainda há lacunas e a China vende com prejuízo grande”, disse.

Com informações do Valor Econômico

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