Futebol brasileiro precisa renascer e abandonar de vez as más notícias
O futebol brasileiro vive um momento raro, onde há bons desenvolvimentos, notícias e acontecimentos que deveriam servir como um empurrão para o esporte
Conforme as demonstrações financeiras de 2024 vão sendo divulgadas vai se materializando aquela sensação de que teremos números bastante ruins. Alguns até conseguem superávits, mas as dívidas mudaram de patamar, mesmo com receitas maiores. Dinheiro na mão é vendaval, e se podemos gastar 10, por que não gastar 20?
Neste espaço comentei recentemente os números de Flamengo e Palmeiras, que apesar de ainda estarem dento de um equilíbrio já não são tão robustos como antes. O Flamengo com mais conforto, o Palmeiras já na fronteira do aceitável. E ambos com mais dívidas, apesar de mais receitas.
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Santos, Bragantino e Grêmio
Enquanto isso, o Santos finalizou 2024 muito mais endividado, o Bragantino fecha as contas por causa da Red Bull, o Grêmio que sempre foi elogiado pelo controle financeiro, apresentou números piores, com mais dívidas – ainda que parte do crescimento venha dos adiantamentos de direitos de transmissão e placas, mas que significarão redução de receita futura.
E ainda tivemos as informações sobre o São Paulo, com mais dívidas e déficit absurdamente elevado, e o Corinthians se esforçando para chegar aos R$ 2 bilhões em dívidas.
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Se os sinais de fumaça já indicavam algo ruim, a mensagem que está chegando confirma isso.
Ainda precisamos ver o Internacional, Fluminense, Botafogo, Vasco, Cruzeiro – clube cujo presidente já disse que gastou além do razoável e mal – e Atlético-MG. E começo a ficar receoso em relação ao Fortaleza, outro bastião da boa gestão. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.
Finanças do futebol brasileiro: panorama não é bom
Não está nada bom. Vou insistir nisso: tivemos mais receitas, a bolha das casas de apostas colocou mais dinheiro no futebol, os donos de SAF supostamente colocaram mais dinheiro – ou terão endividado mais os clubes, jogando por terra a ideia de que eram bilionários torrando dinheiro? – e ainda assim o cenário é pior. Os sinais que já chegam desse início de 2025 indicam que o ano não será bom. Lá vou eu, de novo, reclamar do futebol brasileiro.
Gostaria de fazer diferente, porque há motivos para se animar.
Os estádios estão mais cheios, mesmo com partidas de qualidade inferior à média do que se observa na Europa. Os novos contratos de direitos de transmissão foram excelentes, ainda mais quando observamos o comportamento também da Europa, com estagnação e problemas graves como na França.
E isso trouxe mais parceiros comerciais interessados em fazer parte do esporte. Temos um cenário favorável ao investimento em clubes desde a criação das SAFs, que apesar de estarem em fase de amadurecimento, já mudaram a cara do futebol nacional.
Por que, então, não evoluímos por completo?
Porque ainda carecemos de maturidade nas gestões. E isso passa pela ausência de uma liga que lide de forma estruturada com o produto futebol, de maneira holística.
Vimos recentemente o Flamengo voltar a reclamar da distribuição dos direitos de transmissão. O torcedor pode até reclamar nos bares, cafés e redes sociais, mas de dirigentes qualificados, que sabem como o mundo do futebol desenvolvido funciona, não é isso que espero.
É mais uma trava na construção da liga.
Preste atenção em Portugal
Um exemplo é Portugal, onde a disparidade na distribuição dos recursos vindos dos direitos de transmissão entre os três maiores clubes – Benfica, Sporting e Porto – e os menores é de 15 vezes.
O futebol português prioriza os grandes que disputam as competições continentais, mas sufoca a competitividade local.
Só por força de uma lei é que a partir de 2028/29, podendo eventualmente antecipar para 2027/28, é que haverá distribuição mais equânime. Ainda assim, é um dos mercados que mais forma e vende atletas no mundo, e que melhor forma treinadores, espalhados pela Europa e cada vez mais no Brasil.
A liga e a federação portuguesas fazem um bom trabalho interno, de estruturação da competição, de licenciamento de clubes e fair play financeiro, mas falta culminar no aumento da competitividade, que jamais equiparará o Santa Clara ao Benfica, mas aumentará a chance de equipes que vão para a Europa League e Conference League irem bem, e isso aumentará a quantidade de equipes do país a disputar as competições, e trará mais dinheiro ao futebol local. É um círculo virtuoso.
Se um dia Portugal classificar três ao invés de dois clubes para a Champions League, então os três grandes terão vaga na competição que hoje recebe apenas dois. Visão de longo prazo, onde abrir mão de um pouco pode significar muito mais adiante.
Receitas aumentam, mas seguem insuficientes
Falei de licenciamento de clubes e fair play financeiro e isso toca no problema do início da coluna. Não adianta aumentar as receitas se elas continuam sendo insuficientes. E seguirão insuficientes enquanto não houver um sistema eficiente de controle dos clubes.
É chover no molhado, mas é preciso.
Não adianta contratar consultorias caras para resolver problemas que os dirigentes não querem resolver. Não adiante pedir recuperação judicial se o objetivo é só empurrar o problema para frente.
O futebol brasileiro vive um momento raro, onde há bons desenvolvimentos, notícias, acontecimentos que deveriam servir como um empurrão para que atingisse e se consolidasse num nível mais elevado de competição. Falta pouco para que as críticas deixem de ser a base das nossas conversas semanais.
Vou ver se o coelho trouxe meu ovo de Páscoa. Boas Páscoa a todos!