A corrida pela compra do TikTok: quem vai levar a rede social mais valiosa do mundo?

No centro da disputa entre EUA e China, o TikTok pode mudar de mãos — e gigantes de tecnologia já se preparam para a briga

Entre os principais interessados na compra do TikTok estão Microsoft, Oracle e um consórcio liderado por Bobby Kotick. (Foto: Solen Feyissa/Wikimedia Commons)
Entre os principais interessados na compra do TikTok estão Microsoft, Oracle e um consórcio liderado por Bobby Kotick. (Foto: Solen Feyissa/Wikimedia Commons)

O TikTok deve continuar operando nos Estados Unidos mesmo após o prazo final para sua venda, em 5 de abril. Pelo menos é o que indica JD Vance, vice-presidente dos EUA. O político afirmou à NBC News que um acordo está “quase certamente” a caminho.

Segundo ele, o arranjo deve “satisfazer as preocupações de segurança nacional” do governo e garantir que a plataforma opere de forma distinta no mercado americano.

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Desde que a lei determinando a venda do TikTok pela ByteDance foi sancionada, em 19 de janeiro, a incerteza sobre o futuro do aplicativo tem movimentado o mercado.

Agora, com o prazo se aproximando, cresce também o debate sobre quem será o novo dono da rede social nos Estados Unidos. Grandes players do setor de tecnologia já demonstraram interesse no negócio – que pode ser um dos mais relevantes do ano.

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O crescimento do TikTok: do viral ao império digital

Nos primeiros anos, o TikTok era conhecido apenas por veicular vídeos curtos e desafios virais. O que realmente impulsionou sua ascensão foi a sofisticação do algoritmo de recomendação. Isso transformou a plataforma em motor de engajamento.

Ao contrário das redes sociais tradicionais, que priorizam conexões entre amigos e seguidores, o TikTok usa inteligência artificial para entregar conteúdos hiperpersonalizados, baseados no comportamento individual de cada usuário.

“O grande diferencial do TikTok foi criar um feed onde 100% do conteúdo é recomendado por IA, sem depender de conexões sociais”, explica Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação.

“Isso permitiu que o aplicativo conquistasse rapidamente espaço nos EUA e depois no mundo”, conclui.

A lógica do algoritmo também o transformou em canal de busca. Cada vez mais usuários recorrem à plataforma para descobrir produtos, tendências e informações – desafiando até mesmo o Google na disputa pela atenção digital.

Levantamento feito pela Cloudflare, empresa de segurança que acompanha e ranqueia o tráfego mundial dos sites, apontou a rede social chinesa como o site mais acessado do mundo em 2021.

Gabriel Nakanishi, cofundador da CRIAMov e especialista digital, reforça que o TikTok criou mesmo uma verdadeira fábrica de vídeos virais. “O tempo de uso cresceu exponencialmente, e isso atraiu marcas, criadores de conteúdo e anunciantes. Hoje, estar no TikTok não é mais uma opção para as empresas – é uma necessidade.”

O TikTok hoje ocupa uma boa parte da rotina dos usuários mais jovens. Levantamento feito em 2024 pelo aplicativo de controle parental Qustodio, com dados de mais de 400 mil famílias de vários países, revelou que 48% dos entrevistados usaram a rede social no ano passado. Os adolescente ficaram, em média, 112 minutos por dia no aplicativo, alta de 5% em relação a 2022.

O embate com os Estados Unidos

Mas o crescimento exponencial do TikTok também trouxe problemas. Nos Estados Unidos, autoridades alegam que a plataforma representa risco à segurança nacional, citando preocupações sobre a possibilidade de que dados de usuários americanos sejam acessados pelo governo chinês.

Essa tensão escalou em 2020, quando o governo Trump tentou banir o aplicativo e pressionou pela venda da operação americana. A ByteDance reagiu com uma estratégia para mitigar as críticas: o ‘Project Texas’.

O plano de 2022 previa a criação da TikTok US Data Security (USDS), que passaria a armazenar e administrar os dados dos usuários americanos em servidores locais, operados pela Oracle.

“Estamos trabalhando em estreita colaboração com a Oracle para desenvolver protocolos de gerenciamento de dados que a companhia auditará e gerenciará para dar aos usuários ainda mais tranquilidade”, afirmou a empresa em comunicado.

No entanto, a desconfiança permaneceu.

Em 2023, o Departamento de Justiça do governo dos Estados Unidos abriu investigação contra a ByteDance por possível espionagem de jornalistas. O inquérito criminal foi noticiado pela revista Forbes.

Em comunicado, Jennifer Banks, porta-voz da ByteDance, afirmou que a empresa condenava veementemente as ações dos indivíduos envolvidos, que não estavam mais empregados na companhia. “Nossa investigação interna ainda está em andamento, e cooperaremos com quaisquer investigações oficiais quando nos forem trazidas”, afirmou a executiva.

O caso reacendeu tensões e fortaleceu o argumento de que a plataforma ainda não conseguiu se desvincular completamente da influência do governo chinês.

Para Vladimir Feijó, professor de relações internacionais da Uniarnaldo Centro Universitário, a disputa vai além da questão dos dados. “O TikTok está no centro de uma disputa geopolítica entre EUA e China. O que está em jogo não é apenas um aplicativo de entretenimento, mas o domínio da infraestrutura digital global.”

Agora, com Donald Trump de volta à presidência, a pressão para a venda da operação americana voltou à pauta. E grandes players do mercado se preparam para uma possível aquisição.

Os candidatos à compra do TikTok

De acordo com o relatório Global 500 2025, feito pela Brand Finance, o TikTok ocupa hoje a sétima posição entre as 500 marcas mais valiosas do mundo, com valor de mercado de US$ 105,8 bilhões. Apple, Microsoft, Google, Amazon, Walmart e Samsung ocupam as primeiras posições do ranking.

Como a rede social mais valiosa do mundo, a plataforma se tornou um ativo digital cobiçado. Entre os principais interessados na compra do TikTok estão Microsoft, Oracle e um consórcio liderado por Bobby Kotick, ex-CEO da Activision Blizzard. A startup Perplexity AI, que busca rivalizar com o ChatGPT, também enxerga na aquisição uma oportunidade estratégica.

A Oracle desponta como uma das favoritas na corrida pela compra do TikTok. “A parceria existente (com a operação dos servidores nos EUA) fortalece a posição da Oracle, tornando-a uma das empresas com mais condições de fechar esse negócio”, aponta Mario Machado, assessor e sócio da InvestSmart.

O que torna o TikTok tão valioso?

Com mais de 1 bilhão de usuários ativos mensais, o TikTok conquistou espaço único no ecossistema digital. Mas seu valor vai além da audiência.

“O TikTok oferece acesso a uma base de dados valiosa sobre padrões de consumo e tendências culturais, além de ser pioneiro no formato de conteúdo curto e interativo, moldando o futuro da comunicação digital e da publicidade”, destaca Machado.

Outro diferencial da plataforma é sua capacidade de integrar entretenimento e e-commerce de maneira natural. Hoje, com o TikTok Shop, os consumidores não precisam sair do aplicativo para realizar uma compra.

Daniel Toledo, especialista em negócios internacionais, aponta ainda a importância do TikTok para pequenas e médias empresas.

“Originalmente criado para o público jovem, o TikTok se tornou uma plataforma de negócios crucial, especialmente para empresas menores com orçamentos limitados. Diferente do Instagram e do Facebook, que exigem altos investimentos para ganhar visibilidade, o TikTok permite que qualquer marca alcance milhões de pessoas organicamente.”

O desfecho da disputa

A venda do TikTok ainda é incerta, mas a pressão política e regulatória nos EUA coloca a ByteDance em posição delicada. Se o governo americano insistir na negociação, a empresa terá que decidir entre ceder o controle de sua operação nos EUA ou correr o risco de um banimento definitivo.

O que está claro é que a disputa pela compra do TikTok transcende o mercado de redes sociais. No centro dessa batalha estão não apenas bilhões de dólares, mas o futuro do controle de um volume grande de dados – e as empresas que vencerem essa corrida terão em mãos um dos algoritmos mais poderosos da atualidade.

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