Mercado deixa recuperação do Ibovespa para 2º semestre e aposta no ‘trunfo Eleições 2026’

Outra via de crescimento para o Ibovespa seria o aumento de fluxo do investidor local.

O Ibovespa entrou no fogo cruzado da guerra comercial entre China e Estados Unidos e, para melhor ou pior, a volatilidade do índice o levou do céu ao inferno em menos de uma semana. Gestores apostam que a bolsa de valores do Brasil, contudo, continuará sujeita a desdobramentos do cenário internacional, com um pé no acelerador e outro no freio. Assim, altas deixam de ser sustentáveis no curto prazo, pelo menos de volta à cotação de 130 mil pontos.

A expectativa dos donos de fundos é, na verdade, de que o Ibovespa hoje continue entre sinais mistos, mas que uma nova alta surja no segundo semestre. O motivo: uma euforia dos mercados com a proximidade das eleições presidenciais em 2026. Há quem diga que é cedo para antecipar uma explosão do índice.

Ibovespa aos 130 mil pontos? Não tão cedo, mesmo sem tarifaço

A bolsa brasileira tem uma trajetória de montanha russa em 2025. Até março, o índice subia 8% e de mãos dadas com o recuo do dólar contra o real no ano. O tarifaço de Donald Trump levou o Ibovespa a cair 5%.

Em seguida, nesta quarta-feira, uma semana depois do anúncio de tarifas globais de importação pelos Estados Unidos, a bolsa de valores subiu mais de 3%. Isso porque o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou atrás e decidiu suspender tarifas “recíprocas” a todos os países anteriormente taxados, com exceção da China.

Baixada a poeira, o movimento é, sem dúvida, “um alívio para o investidor local” diz Fábio Zaclis, head de fundos multimercado da Banco Daycoval Asset, à Inteligência Financeira.

A aversão a risco criada a partir da imposição de tarifas assustava o investidor internacional, principal motor da bolsa de valores no ano. No ano, o fluxo estrangeiro é positivo em US$ 9,6 bilhões em 2025, mesmo com o movimento de selloff vivido pelo Ibovespa nesta semana, de acordo com dados do Itaú BBA.

Para Zaclis, o que dificultava a aposta na bolsa brasileira era a queda geral das commodities. “Tínhamos cobre, minério de ferro, petróleo todas as commodities caindo em peso. E nós como País exportador sofremos”, afirma Zaclis.

Retirada as tarifas globais, o Ibovespa tende a se recuperar no curto prazo, mas não voltar aos 130 mil pontos, como antes.

‘Trade eleitoral’ deve ganhar força no segundo semestre

João Piccioni, estrategista-chefe da Empiricus, explica que o Ibovespa deve crescer à medida em que o mercado se empolga ainda mais com as Eleições de 2026. A Faria Lima vem fazendo apostas sobre o quanto a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode levar a bolsa a subir neste ano.

Piccioni acredita que esse pode ser o gatilho para o Ibovespa superar a máxima histórica. A Empiricus projeta uma pontuação de 143 mil até dezembro.

“O Ibovespa não se recupera para 130 mil pontos, porque o movimento internacional vai incomodar o índice por um tempo”, afirma o estrategista. Ele observa que o mercado deve clarear depois da temporada de resultados do primeiro trimestre, que se avizinha.

A alta de 8% da bolsa no primeiro trimestre, inclusive, foi a melhor desde 2022, ano do pleito entre Lula e Jair Bolsonaro (PL). Nos primeiros três meses daquele ano, o índice subiu mais de 14%.

Roberto Esteves, CIO da gestora Guepardo Investimentos, afirma que o movimento pode ser semelhante ao que ocorreu logo antes da eleição de Javier Milei da Argentina. Em 2023, o índice Merval foi de 195 mil a 823 mil pontos.

Hoje, Esteves vê uma mola propulsora no Ibovespa. Isso porque, por enquanto, o estrangeiro foi às compras, e o local ficou com a cesta leve.

“O (investidor) local começa a operar a eleição, vendo que hoje o cenário final pode ser mais favorável, com antecipação de rali”, comenta o CIO da Guepardo.

Alguns investidores locais de destaque, no entanto, se resguardam de operar com base na eleição.

De acordo com Alexandre Brito, sócio da gestora Finacap, o mercado “costuma antecipar em mais ou menos um a um ano e meio” a influência do cenário eleitoral na bolsa.

Por que Eleições de 2026 influenciam no Ibovespa

O mercado financeiro pende para a visão de que Lula tende a não concorrer à Presidência para o ano que vem por sinais de baixa popularidade. Principal adversário político do petista, Jair Bolsonaro (PL) está inelegível até 2030 devido a duas condenações no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Assim, pela primeira vez, um cenário menos polarizado pode reduzir risco sobre ativos locais, diz Fabiano Vaz, gestor da Nord Investimentos.

Ele esclarece, contudo, que “não era para o mercado estar falando de eleição” tão cedo.

“Mas o trade eleitoral tende a se fortalecer no segundo semestre com a proximidade do ano das eleições”, afirma. “Pode ser que sim (a recuperação do Ibovespa), fique mais para o final do segundo semestre.”

Para a Eurasia Group, a queda de popularidade de Lula é reversível.

Além das Eleições 2026

Outra via de crescimento para o Ibovespa seria o aumento de fluxo do investidor local.

O Itaú BBA nota que, até a última sexta-feira (4), agentes institucionais registraram volume líquido de entrada de US$ 900 milhões na bolsa.

De acordo com Alexandre Brito, gestor da Finacap, tanto o fluxo estrangeiro quanto o local estão abaixo da média.

“O fluxo local está 7% abaixo da média. Hoje, a alocação dos fundos no Ibovespa está no mesmo nível da época do impeachment da Dilma”, afirma Brito.

Leia a seguir

Pular para a barra de ferramentas