Zeina Latif: ‘Vai ter que ter alguém para colocar grupos políticos na fila do ajuste fiscal’

Consultora econômica defende que atual governo precisa reafirmar o que fará se ganhar eleição

O arcabouço fiscal tem problemas, mas ele sofre de uma questão anterior de difícil solução, que é a institucionalidade brasileira, avalia a sócia-diretora da Gibraltar Consulting, Zeina Latif.

“É claro que o arcabouço importa, são as regras do jogo. Mas a gente tem esse problema anterior que é a dificuldade da sociedade entender que é preciso conter despesas. Não digo o cidadão comum, mas grupos organizados grupos que tem capacidade de se organizar para pressionar agenda econômica”, afirmou Zeina, que participou de um painel no evento Rumos 2025, organizado pelo Valor.

“Vai ter que ter alguém para colocar grupos políticos na fila do ajuste fiscal.”

Ela lembra que o arcabouço tem um teto para despesa, de crescimento de 2,5% reais. Só que, devido à institucionalidade fraca, ele fica ameaçado. “Vemos despesas sendo criadas e o silêncio do Tribunal de Contas.”

Para Zeina, este é um problema que não nasceu no atual governo nem do anterior, mas que é agravado pela polarização política recente.

“A reforma tributária foi gestada pela equipe técnica do governo anterior, não era agenda do ministro, mas dos técnicos. Quando começa a tramitação, eu não vejo manifestação do presidente Lula sobre o tema e fui entender depois que qualquer coisa que ele falasse, iria polarizar. Um tema bastante complicados, que teve até governadores atrapalhando”, lembrou.

“Então considerando a nossa institucionalidade atual, qualquer caminho vai ter que ser comendo pelas bordas.”

Compromisso com a meta fiscal

O governo federal precisa indicar o que pretende fazer em termos econômicos se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva for reeleito, disse Zeina Latif, consultora econômica e sócia da Gibraltar Consulting.

“Insisto nisso. A gente precisa ver o atual governo não só reafirmando a meta do ano, mas o que pretende fazer se ganhar a eleição”, afirmou Latif durante o evento.

Latif disse não acreditar que o Brasil esteja em situação de dominância fiscal, mas afirmou que “o medo é do por vir”, sem descartar que os números atuais também são “ruins”.

“Tem dívida pública que destoa, com trajetória preocupante, mesmo que o mundo também esteja com aumento da dívida. Mas aqui é obviamente maior”, afirmou.

Por isso, ela reforçou que as questões de credibilidade e confiança no governo são importantes. Ela lembrou da passagem do governo Dilma Rousseff para o de Michel Temer.

“Antes mesmo da troca de guarda no Banco Central, começamos a ver as expectativas inflacionárias caindo, o câmbio refluir, porque era confiança de que vinha o ajuste”, disse.

Com informações do Valor Econômico

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