O império contra ataca: as tarifas de Trump e o risco de repetir a rima errada
Como professor, gosto de lembrar aos meus alunos — e a mim mesmo — que as crises também são oportunidades de aprendizado. Os ciclos se repetem, sim, mas o que fazemos com eles é escolha nossa

“A história não se repete, mas rima”, dizia o crítico social Mark Twain. Como professor de finanças, cada vez que vejo manchetes sobre tarifas, retaliações e comércio internacional em transe, ouço esse eco vindo do passado.
Ele vem do longínquo ano de 1930, quando os Estados Unidos aprovaram o Smoot-Hawley Tariff Act, uma tentativa desastrada de proteger a economia americana em meio à Grande Depressão.
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O plano era, sobretudo, agrícola. A lei foi concebida para proteger os produtores rurais, que já vinham sofrendo com a queda nos preços desde o fim da Primeira Guerra Mundial.
Mas o que começou como uma medida para o campo acabou se estendendo a mais de 20 mil produtos, impulsionado por pressões de diversos setores industriais.
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O resultado foi uma escalada global de tarifas, com retaliações de parceiros comerciais como Canadá, França e Reino Unido.
O comércio internacional encolheu, exportadores perderam mercados, e agricultores — ironicamente, os principais “beneficiários” da lei — faliram em cadeia, sem ter para onde escoar sua produção.
Corta para 2025
Em um novo ato de proteção econômica, o governo dos EUA impõe tarifas sobre produtos de países como China, União Europeia, Vietnã, México e Canadá, a China endurece e revida.
O discurso, mais uma vez, fala em soberania industrial, defesa de empregos e equilíbrio comercial.
Mas, como em 1930, as consequências são previsíveis: inflação em alta, exportadores pressionados, cadeias de suprimento fragilizadas, e aliados históricos desconfiando da previsibilidade da maior economia do mundo.
O mercado financeiro, sensível a qualquer sombra de incerteza, respondeu como se esperava: quedas generalizadas nas bolsas, fuga para ativos de proteção e revisões negativas nas projeções de crescimento global.
E assim, vemos mais um ciclo se desenhar — não exatamente igual ao anterior, mas com notas familiares o suficiente para merecer uma comparação cuidadosa.
Mas nem tudo é repetição ou tragédia
Se há algo que o tempo nos ensina é que também aprendemos — às vezes a duras penas — com os erros do passado.
Hoje temos mecanismos que em 1930 não existiam: bancos centrais independentes, fóruns multilaterais de negociação, redes de cooperação entre países e, acima de tudo, uma teoria econômica mais sólida que nos oferece um norte.
David Ricardo, ainda no século XIX, nos mostrou que o caminho para a prosperidade passa pela cooperação, não pelo isolamento.
Sua teoria das vantagens comparativas segue sendo um farol: países se beneficiam mais quando produzem aquilo em que são relativamente melhores, e trocam com os demais.
O comércio é, em sua essência, uma forma de colaboração.
Como professor, gosto de lembrar aos meus alunos — e a mim mesmo — que as crises também são oportunidades de aprendizado. Os ciclos se repetem, sim, mas o que fazemos com eles é escolha nossa.
E se a história rima, que seja uma rima que nos leve não ao medo, mas à reflexão, e quem sabe, à reconstrução de pontes.
Afinal, o mundo já se reergueu de situações difíceis antes. E vai se reerguer de novo.