Entenda por que a Moody’s rebaixou o rating dos Estados Unidos
A agência de classificação de risco Moody’s cortou a nota de crédito dos Estados Unidos de “Aaa”, que constitui o grau máximo de investimento, para “Aa1”, na última sexta-feira. O rating estabelecido pela Moody’s avalia a capacidade de pagamento de um país ou empresa e serve como um guia para investidores avaliarem o risco de crédito. Em comunicado, a agência disse que o aumento da dívida americana foi o principal motivo por trás do rebaixamento.
Dívida em alta
A Moody’s avalia que a dívida pública americana cresceu de forma acentuada na última década e, sem ajustes na tributação e nos gastos, o déficit fiscal deve crescer ainda mais nos próximos anos, representando quase 9% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2035. Em 2024, a expectativa era de 6,4%. A agência também estima que a dívida pública federal americana irá atingir 124% do PIB até 2035, ante projeção de 98% no ano passado.
“Ao longo de mais de uma década, a dívida federal dos Estados Unidos cresceu acentuadamente devido a déficits fiscais persistentes”, observa a Moody’s. “Não acreditamos que as propostas fiscais atualmente em discussão levarão a reduções significativas e sustentadas nos gastos obrigatórios ou nos déficits”. A agência projeta que os gastos obrigatórios irão representar cerca de 78% do orçamento americano em 2035, ante estimativa anterior de 73%.
A Moody’s faz referência, ainda que indireta, ao projeto de cortes de impostos que tramita no momento na Câmara dos Representantes dos EUA e que, no fim de semana, foi aprovado pelo Comitê do Orçamento da Casa. Além de reduzir impostos, o projeto prevê alguns cortes de gastos, mas há um temor crescente no mercado de que, conforme passa pelo Congresso, as reduções de despesas sejam diluídas, o que deve aumentar o impacto fiscal da proposta.
Juros elevados
A agência também ressaltou que os juros mais altos desde 2021 nos Estados Unidos vêm comprometendo a sustentabilidade da dívida. Com isso, os pagamentos de juros podem consumir cerca de 20% da receita em 2035, ante 18% em 2024 e 9% em 2021.
A Moody’s observa que o país ainda tem um nível de crédito “excepcionalmente forte” e uma economia resiliente. Mas, apesar dos fortes fundamentos econômicos e financeiros, a agência afirma que isso “não compensa mais a deterioração das métricas fiscais”, segundo a nota.
A perspectiva do rating é estável, segundo a agência, devido a fatores positivos que oferecem resiliência a choques econômicos nos Estados Unidos.
Dólar
A Moody’s vê que, apesar de uma possível desaceleração no curto prazo por conta das novas tarifas, o potencial de crescimento de longo prazo dos EUA não deve ser afetado. Além disso, o fato de o dólar americano ser a principal moeda de reserva global traz vantagens significativas ao governo na captação de recursos para financiar déficits e rolar a dívida. E, apesar de iniciativas de diversificação de reservas por bancos centrais ao redor do mundo, a agência acredita que o dólar continuará como a principal moeda de reserva.
Não é a primeira vez que isso acontece. Além da Moody’s, a agência S&P Global Ratings rebaixou a nota soberana americana em agosto de 2011 e a Fitch, em agosto de 2023.
Com informações do Valor Econômico
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