Brasil vai pagar quase R$ 1 trilhão com juros da dívida em 2025, diz Moody’s

Agência de classificação de risco, que elevou a nota de crédito do país em outubro passado, agora mostra uma visão mais pessimista em relação ao Brasil

O ciclo de alta da Selic vai impulsionar as despesas do governo federal para pagar juros da dívida, limitando as opções para uma redução do déficit fiscal, afirmou a Moody’s, em relatório nesta quarta-feira (23).

Nos cálculos da agência de classificação de risco de crédito, os gastos com serviço da dívida (total de juros e amortizações pago para cobrir os empréstimos e financiamentos) chegarão a R$ 995 bilhões neste ano.

Esse montante equivale a mais de 21% da receitas do governo federal. Ainda assim, a relação dívida/PIB, prevista para cerca de 80% em dezembro próximo, deve continuar subindo, até chegar ao redor de 88% do PIB nos próximos anos.

Desde setembro passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem elevando a taxa básica de juros para tentar conter a inflação. Desde então, a Selic passou de 10,5% para 14,25% ao ano. Na última reunião, em março, o órgão indicou uma nova alta na taxa, que pode superar 15%, uma máxima em quase duas décadas.

A inflação medida pelo IPCA subiu 5,48% em 12 meses até março — acima do nível de tolerância do Copom. Uma pesquisa de abril feita pelo Banco Central mostrou que a mediana das expectativas de inflação para 2025 e 2026 aumentaram para 5,5% e 4,5%, respectivamente.

Governo deveria ter política fiscal mais ambiciosa, diz Moody’s

Segundo a Moody’s, para reduzir o custo da dívida, o Brasil precisa de uma “consolidação fiscal mais ambiciosa.”.

A agência até acredita que o governo alcançará a meta de resultado primário de cerca de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, com aumento da receita com os acordos fiscais.

Nesse sentido, em novembro o governo anunciou limites para o aumento do salário mínimo, o que tem um efeito direto na conta de salários e nos gastos com previdência social. Ao mesmo tempo, o Planalto propôs expandir a isenção do Imposto de Renda para famílias que recebem até R$ 5 mil por mês, aumentando a alíquota para famílias de renda mais altas, com efeito fiscal neutro.

Mas medidas adicionais, especialmente no lado dos gastos, são necessárias, disse a Moody’s.

Foto de Samar Maziad. Ela é mulher, parda, tem cabelos pretos. Maziad é vice-presidente de rating da agência de crédito Moody's
Desastres climáticos reforçam necessidade de ‘consolidação fiscal’, diz Samar Maziad VP de ratings da Moody’s. Foto: Divulgação

“A rigidez dos gastos e a alta dos pagamentos de juros limitam as perspectivas de grandes cortes de despesas no curto prazo. Reformas adicionais para lidar com aumentos dos gastos obrigatórios são necessárias”, diz o documento assinado pela equipe da economista Samar Maziad.

O governo espera que um pacote fiscal mais amplo gere uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. No médio prazo, entranto, o governo projeta que os esforços para conter o aumento dos gastos obrigatórios resultarão em economias de cerca de R$ 327 bilhões entre 2025 e 2030.

Os comentários parecem vir na direção contrária do que a própria agência sinalizou no ano passado.

Em outubro passado, a Moody’s elevou a nota de crédito atribuída ao Brasil, de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva, colocando o Brasil um nível abaixo do chamado grau de investimento, dívida de baixo risco de calotes. 

Dívida sobe, prazo diminui e perfil piora, mostra Moody’s

Agora, o levantamento da Moody’s mostra que, além de mais cara, a dívida federal brasileira teve piora do perfil, com redução de prazos e maior dependência de papéis posfixados, portanto mais sensíveis ao aumentos de juros.

A participação da dívida federal brasileira com taxa posfixada subiu para 50,1% em janeiro, ante 41,3% em dezembro de 2023.

Composição do estoque da dívida pública federal, por tipos de indexador

O vencimento de curto prazo médio de quatro anos da dívida pública contribui para uma rápida transferência dos aumentos das taxas de juros para a conta de juros. O vencimento médio dos títulos indexados à Selic é ainda menor, de três anos.


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