Argentina: mercados oscilam, mas reagem bem ao 1º dia após o fim dos controles cambiais

- A Argentina eliminou os controles cambiais, gerando oscilações, mas com saldo positivo.
- O dólar oficial subiu 11,5% no atacado e 12% no varejo.
- O índice Merval da bolsa argentina subiu 4,70%, com destaque para o setor bancário.
- Títulos soberanos argentinos caíram, representando alta para investidores.
- O FMI depositará US$ 12 bilhões na terça-feira como parte de um empréstimo de US$ 20 bilhões.
- O governo espera que a nova política impulsione a economia.
Em seu primeiro dia após o fim dos controles cambiais (chamado localmente de ‘cepo’), a Argentina viveu uma segunda-feira (14) de fortes oscilações nos mercados. O saldo, no entanto, ficou positivo, com investidores comemorando a nova fase da economia e já adiantando a primeira parcela do recém costurado empréstimo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deve depositar US$ 12 bilhões já nesta terça-feira.
Assim, o dólar oficial no atacado, referência para o comércio exterior, encerrou o dia em alta de 11,5%. Para o varejo, a divisa americana subiu 12%, cotado a 1.230 pesos, contra 1.097,50, do fechamento de sexta-feira, quando ainda vigoravam os controles.
Para os economistas, como os analistas do JP Morgan, a desvalorização do peso foi menor do que o esperado. “Superou nossas expectativas”, disse o banco, no final da tarde.
No mercado acionário, o otimismo levou o índice Merval, o mais líquido da bolsa argentina, a subir 4,70% em sua versão dolarizada. O destaque do dia ficou para o setor bancário. Os papeis do Banco Supervielle, negociados na bolsa de Nova York, se valorizaram 17,7% em pesos e 2,30% em dólares.
Da mesma forma, a renda fixa encerrou a segunda com os títulos soberanos da Argentina em queda forte. Como na renda fixa o movimento é contrário, os investidores comemoram uma alta de quase 9% para os vértices mais longos dos títulos.
Nova era
A eliminação do chamado ‘cepo’ ocorre após semanas de uma crise cambial, que levou o banco central argentino a vender mais de US$ 2 bilhões para sustentar a moeda local.
O esquema anterior, de compra controlada de moeda americana, fez o câmbio quintuplicar e impulsionou o mercado paralelo argentino. O país contava com mais de sete cotações de dólar diferentes (oficial, MEP, blue. CCl, tarjeta, mayorista, turista, entre outros).
Agora, o novo mecanismo implica uma flutuação da moeda segundo a oferta e a demanda, com um piso de 1.000 pesos por dólar americano e um teto de 1.400 pesos. O Banco Central argentino poderá ser chamado a intervir para manter a cotação entre essas duas bandas.
“Não existe mais o dólar oficial, há um dólar único, que é o de mercado”, comemorou o presidente Javier Milei em declarações à Rádio El Observador pela manhã. A eliminação dos controles cambiários era uma promessa de campanha do mandatário.
Novo acordo com o FMI
A liberação parcial do câmbio foi determinante para, na sexta-feira, a Argentina fechar com o Fundo Monetário Internacional um empréstimo de US$ 20 bilhões (116,8 bilhões de reais), com um primeiro aporte de US$ 12 bilhões previsto para a terça-feira.
O Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento também anunciaram pacotes de US$ 12 bilhões e US$ 10 bilhões, respectivamente.
A implantação do novo esquema coincidiu com a visita do secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que se reuniu com o presidente Javier Milei na tarde desta segunda (14), na Casa Rosada.
Expectativa
A partir de hoje, as pessoas físicas, que antes só podiam comprar até US$ 200 dólares por mês, agora podem adquirir uma quantidade ilimitada de dólares por meio de operações bancárias. E um máximo de US$ 100 em dinheiro vivo.
Já as empresas vão precisar esperar até 2026 para enviar dividendos para o exterior.
Capital político
O governo usou por seis anos (desde 2019) a cotação do dólar como âncora sobre expectativas de inflação.
As novas medidas, portanto, geram apreensão sobre os efeitos de um dólar mais flutuante nos preços.
O controle da inflação é o principal capital político de Javier Milei, que encampa um plano de austeridade fiscal bastante forte, com ajustes drásticos nas aposentadorias, na educação e na saúde.
Ele conseguiu, via controle fiscal, uma queda da inflação de 211%
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