Bancos reveem perspectivas para ofertas de ações em 2023
Volatilidade e juros altos fazem planos ser adiados; volumes devem ficar abaixo de R$ 60 bilhões, segundo executivos do setor

As projeções de captação das companhias brasileiras por meio de ações estão em revisão para baixo diante das incertezas sobre o momento em que o Banco Central (BC) dará início ao corte da taxas de juros. Empresas começam a adiar planos de ir a mercado no primeiro semestre, especialmente as candidatas a estrear na bolsa com ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês).
No último trimestre do ano passado, visões mais otimistas do mercado financeiro previam um volume de até de R$ 100 bilhões em ofertas de ações. Nesse bolo, estava incluído um rol de mais de dez IPOs, o que quebraria um marasmo de mais de um ano sem estreias na bolsa brasileira provocada pelo aumento da aversão a risco. Projeções mais conservadoras indicavam que cerca de R$ 60 bilhões poderiam ser movimentados neste ano em 25 a 30 operações, boa parte delas, de companhias já listadas, com ofertas subsequente (“follow-ons”).
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Agora, parte dos bancos de investimento já vislumbra volumes ainda menores, uma vez que a volatilidade e o ciclo de juro alto devem durar mais tempo que o esperado, empurrando para o segundo semestre as captações corporativas por meio de ações. Agora, uma retomada mais robusta do mercado de capitais passou a ser esperada só para 2024.
O último IPO no mercado brasileiro foi o do Nubank, em dezembro de 2021. O banco digital fez uma dupla listagem na Bolsa de Nova York e na B3. Já a última oferta subsequente (“follow-on”) foi a do atacarejo Assaí, com a venda de ações detidas pelo francês Casino, em novembro do ano passado.
Em 2022, as emissões de renda variável somaram cerca de R$ 55 bilhões, com 18 “follow-ons”. A maior parte do montante movimentado foi concentrada na operação da Eletrobras, que levantou cerca de R$ 33 bilhões. No ano anterior, entre IPOs e ofertas subsequentes, houve 76 transações, movimentando quase R$ 130 bilhões. Foi um desempenho melhor que o de 2020, quando foram realizadas 51 operações, com R$ 117 bilhões captados.
O responsável pela área de renda variável do Morgan Stanley para a América Latina, Eduardo Mendez, confirma que o mercado de capitais neste ano começou mais devagar do que se gostaria, mas diz que as incertezas também estão relacionadas com as taxas de juros nos Estados Unidos. “Há muita incerteza sobre a taxa de desconto correta”, afirma.
De qualquer forma, segundo Mendez, a expectativa é que no segundo semestre haja maior clareza sobre os juros e, com isso, as ofertas ganharão ritmo, especialmente os IPOs. No entanto, diz o executivo, será uma retomada bastante seletiva, com empresas consolidadas e ofertas grandes o suficiente para atrair investidores estrangeiros, que exigem um tíquete mais alto para investir.
“Já estamos vendo alguns sinais de recuperação, mas do ponto de vista do secundário, com o fluxo de estrangeiros muito relevante ao Brasil”, afirma.
Para o responsável pela área de mercado de capitais do Credit Suisse, Leonardo Cabral, a boa notícia é que os investidores estrangeiros estão demonstrando apetite em investimentos no Brasil. Para ele, os IPOs devem ser retomados no segundo semestre.
Em relação aos follow-ons, o mercado brasileiro poderá ver um fenômeno de empresas que precisam arrumar a casa fazendo ofertas de ações com o objetivo de levantar capital para ajustar o balanço. “A questão é que as companhias precisarão se preparar para mais um ano de juros altos e poderemos ver alguns follow-ons de empresas buscando ajustar o balanço para atravessar esse período. Poderemos ver operação a partir de junho e vejo a possibilidade de empresas mais alavancadas fazendo follow-ons”, afirma Cabral.
Na opinião do responsável pelo banco de investimento da XP, Pedro Mesquita, o primeiro semestre será palco apenas de “alguns follow-ons pontuais”. Por ora, há pouca visibilidade para IPOs. “No fim do ano passado, eu já não estava otimista, agora, com a deterioração das expectativas de mercado neste início de ano, as ofertas, especialmente os IPOs, vão demorar mais”, diz o executivo, que prevê uma retomada também a partir da segunda metade de 2023.
A grande aposta de estreia na bolsa no início deste ano era a CTG Brasil, geradora de energia da gigante estatal chinesa China Three Gorges no país. No ano passado, a expectativa era que a abertura de capital fosse no primeiro trimestre, mas logo na virada para 2023 a oferta já havia sido empurrada para a janela de abril.
A empresa começou o processo antes mesmo do início das eleições presidenciais no Brasil, deixando de lado a volatilidade do mercado e tendo em vista que, historicamente, o setor de energia é um dos mais defensivos da bolsa. Naquele momento, a receptividade, ainda segundo fontes, foi bastante positiva, o que teria dado o sinal verde para uma oferta entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões. Com isso, a empresa faria um debute na B3 valendo de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões. Por isso, o primeiro arquivamento junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi feito na última semana de novembro, ou seja, após as eleições. Procurada, a CTG não comenta o assunto.
Por Fernanda Guimarães e Mônica Scaramuzzo