Após taxas do Tesouro Direto dispararem com falas de Lula, é hora de aproveitar e comprar?
A remuneração dos títulos atrelados à inflação do Tesouro Direto disparou para acima de 6% ao ano mais IPCA, um nível bastante atraente

A remuneração dos títulos atrelados à inflação do Tesouro Direto disparou para acima de 6% ao ano mais IPCA, um nível bastante atraente, após o discurso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, causar uma aversão ao risco agressiva entre os investidores.
Os especialistas aconselham aproveitar os altos rendimentos, caso os papéis casem com o perfil e os objetivos do investidor. Como os retornos ainda podem continuar saltando, a dica é comprar aos poucos.
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Na sexta-feira (11), a taxa dos títulos atrelados à inflação da plataforma continuava aumentando: eles ofereciam pagar de 6,22% e 6,30% ao ano mais IPCA, com datas de vencimento entre 2026 e 2045. O Tesouro Direto chegou a suspender as negociações temporariamente pelo segundo dia consecutivo, devido às fortes oscilações.
Como o nome diz, esses títulos dão uma remuneração real mais a inflação ao ano. Tanto o rendimento real quanto o IPCA avançaram. A elevação do retorno real é causada pela maior expectativa para os juros, espelhada nos juros futuros, que sobem com o mercado assustado com a percepção de que o compromisso com as contas públicas diminuiu no novo governo.
Lula retomou indicações contra o teto de gastos e deu a entender que vai direcionar a economia para o social. Ainda está em jogo a bilionária PEC de transição, um jeito de contornar o apertadíssimo Orçamento de 2023 para acomodar as promessas de campanha do petista. Os gastos do governo acabam ajudando a aumentar a inflação e o caminho para combatê-la é elevando juros.
Além disso, a inflação medida pelo IPCA avançou de novo em outubro, depois das baixas dos meses anteriores: subiu 0,59% no mês passado, acima da expectativa. A alta tem dois efeitos: a expectativa para os juros aumenta e a remuneração dos títulos atrelados à inflação avança.
Tesouro Direto com vencimento em 2026 e 2035
O banco Itaú fez a sua primeira alteração na carteira recomendada de renda fixa em três meses diante da forte oscilação do mercado nesta sexta-feira. A instituição financeira aumentou a exposição aos títulos atrelados à inflação do Tesouro Direto com vencimento em 2026 e 2035, de 15% para 20% e de 10 para 15%, nessa ordem. Em contrapartida, o banco diminuiu a exposição em papéis indexados à Selic, de 60% para 50%.
Em relatório assinado pelo analista Lucas Queiroz, o Itaú afirma que espera que a Selic, a taxa básica de juros da economia, fique ao redor de 12% e 13% ao ano em horizontes longos e que o rendimento real se mantenha acima de 6% ao ano. Contudo, a instituição financeira diz que, no curto prazo, o mercado continuará oscilando e que as alocações devem ser pensadas com horizonte de médio e longo prazo.
É bom lembrar que o rendimento contratado só é garantido caso o investidor carregue os títulos até a data de vencimento. Antes disso, a venda é feita pelo preço de mercado, que muda conforme os juros futuros e pode ser acima ou abaixo do preço de compra dos papéis. Isso significa que a venda antecipada pode causar perdas ao investidor e que é indicado aguardar a data de vencimento para resgatar o dinheiro.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de educação e tecnologia para investidores, também aconselha aproveitar as altas taxas e comprar os títulos atrelados à inflação agora, caso eles casem com o perfil e objetivos do investidor. Contudo, ele adverte que os rendimentos ainda podem aumentar mais nos próximos dias e sugere comprar aos poucos.
“Indico comprar de maneira fatiada, apesar de os retornos estarem excessivamente elevados. Compre um pouquinho agora, aguarde mais uns dias e depois compre mais”, recomenda. “Não temos bola de cristal para adivinhar o exato ponto de inflexão do mercado, mas assim conseguimos uma taxa média e não perdemos a oportunidade caso esse movimento se reverta”, sugere.
Estômago para aguentar oscilações
Entretanto, Jorge aconselha comprar os títulos apenas se o investidor tiver estômago para aguentar a oscilação que os papéis podem sofrer ao longo da aplicação, que pode ser maior agora. “Atualmente, o risco de se machucar é bem grande. Existem muitas dúvidas sobre como e quais propostas do governo eleito serão aprovadas”, afirma.
Devido a essa volatilidade, ele aconselha comprar os papéis com data de vencimento mais perto, até 2026 no Tesouro Direto. Ao investidor que não estiver confortável com isso, ele indica comprar títulos atrelados à Selic, que não sofrem tanto com essa oscilação.
A remuneração dos títulos prefixados também aumentou. Os rendimentos iam de 13,38%, a 13,53% ao ano, com datas de vencimento entre 2025 e 2033. Alguns especialistas também indicam comprar esses papéis, mas o risco deles é maior atualmente, porque aumentou a chance de os juros avançarem e o investidor ficar preso em títulos com rendimento menor.