Dividendos da Cemig (CMIG4) correm risco em 2025 com arbitragem de energia; entenda

A Companhia Energética de Minas Gerais, Cemig (CMIG4), enfrenta riscos que hoje podem reduzir o total de dividendos distribuídos aos acionistas.
Segundo analistas, o principal entrave para os repasses da distribuidora mineira é a exposição da Cemig ao chamado ‘submercado’. Como ela é parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) está sujeita às demandas da rede.
O SIN é um sistema de coordenação e controle, formado pelas empresas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte, que produzem e distribuem energia elétrica do Brasil.
Tanto o Bradesco BBI quanto o UBS BB reconhecem que a distribuidora está sujeita à arbitragem de preços, o que pode comprometer o seu lucro operacional.
Para o UBS, a companhia tem pelo menos uma exposição média de 800 megawatts (MW). A previsão do banco é de que o retorno dos dividendos da empresa baixem de 14,3% para 5,6%.
Analistas veem a transferência de energia cara do Nordeste para o sistema mais barato do Sudeste como o centro do problema.
A Cemig reconhece que hoje enfrenta um problema de arbitragem de preços de energia elétrica. A companhia estatal de Minas Gerais costuma gerar receita em comercialização por meio da diferença entre o volume gerado contra o volume contratado no SIN.
Geralmente, essa estratégia rende à Cemig milhões de reais em comercialização. Só que no quarto trimestre de 2024, o lucro de R$ 225 milhões de 2023 reverteu para prejuízo de R$ 60 milhões.
A virada acendeu um alerta sobre impacto nos dividendos da Cemig (CMIG4).
Cemig sofre com arbitragem de energia
O problema está no aumento de preços de energia no Sudeste e na falta de capacidade para transportar energia no SIN. A Cemig (CMIG4) tem gerado energia mais barata em uma região e, por não conseguir transmiti-la, acaba contratando energia em regiões onde o preço do megawatt por hora é mais caro.
No caso, ela gera energia mais barata no Nordeste, onde a oferta de energia eólica e solar é maior, e não consegue transportar esse montante ao Sudeste, explica a analista Vanessa Naissinger, da Varos Research.
Segundo os analistas do UBS BB, o preço da energia na região Sudeste, onde a Cemig tem maior presença, subiu de R$ 50 para R$ 350 MW por hora entre fevereiro e março. No Nordeste, os preços ficaram mais baixos e estáveis.
“O problema é que tem muita energia sendo gerada lá no Nordeste. Porém, nem tudo pode ser trazido ao Sudeste, porque as linhas de transmissão são limitadas”, aponta Vanessa.
“Acaba que a uma boa parte do que a Cemig produziu vai ter que ficar por lá mesmo. Então, ela pode ser obrigada a vender por baixo preço”, completa.
Dividendos podem cair pela metade em 2025
O prejuízo com a arbitragem de preços pega na veia da empresa, dizem analistas.
A exposição da Cemig ao ‘submercado’ deve piorar o lucro da operação no primeiro trimestre em R$ 173 milhões.
Matheus Zanol, especialista de investimentos da Ável, prevê impacto de R$ 100 milhões do EBITDA da Cemig no trimestre. Isto corresponde a cerca de 7% do lucro operacional.
A Ável vem reduzindo exposição de clientes ao papel por ter uma visão pessimista sobre os proventos no curto prazo.
“Quando olhamos adiante neste ano, a Cemig deve entregar uma margem de dividendos de 6% a 5% por ação”, afirma Zanol. “Isso é abaixo da faixa de 10% a 12% do setor elétrico na bolsa de valores.”
“O dividendo deve ser sim prejudicado, porque há perda na margem de lucro. E existe a chance dessa arbitragem não se resolver e impactar resultados nos próximos meses.”
Pedro Galdi, analista da AGF tem uma visão construtiva para a ação.
De acordo com ele, a Cemig tem portfólio diversificado e “tem a possibilidade de ser privatizada ou ter seu controle federalizado”.
Assim, as ações da distribuidora de energia minera são para um investidor que olha o longo prazo.
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