O que esperar dos balanços de Tesla e Alphabet?
Empresas citadas na reportagem:
A temporada de balanços nos Estados Unidos deve testar, nas próximas semanas, os nervos de investidores já abalados pela guerra tarifária, com a divulgação de resultados de algumas das empresas mais importantes do país.
Duas das chamadas “Sete Magníficas”, Tesla e Alphabet, a empresa controladora do Google, estão entre as que divulgarão seus resultados financeiros nos próximos dias e estarão sob escrutínio de investidores em busca de pistas sobre como o mundo corporativo está reagindo ao tarifaço de Trump.
O balanço da Boeing também está no foco após relatos de que a China suspendeu a entrega de aviões que já havia encomendado. IBM, Merck, Intel e Procter&Gamble também divulgam seus resultados trimestrais no período.
“A visão dos CEOs nunca foi tão importante”, resume JJ Kinahan, CEO da IG North America e presidente da corretor online Tastytrade.
O mercado permanece em alerta desde as tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump no último dia 2 de abril, que levaram ao ambiente de negócios mais volátil desde a pandemia de Covid-19. Após uma recuperação parcial na semana anterior, o S&P 500 caiu na semana passada e permanece 14% abaixo do pico registrado em fevereiro. Os níveis de volatilidade ficaram mais moderados após baterem picos não vistos em cinco anos, mas se mantêm elevados para padrões históricos.
Empresas e investidores estão lutando contra uma realidade tarifária nova e movediça, com o governo Trump ainda negociando com outros países. Embora o presidente tenha recuado por 90 dias de algumas tarifas, ele segue na disputa com a China, a segunda maior economia do planeta.
Ao mesmo tempo, economistas participantes de um levantamento da Reuters elevaram a probabilidade de recessão esta semana para 45%. No mês passado, ela estava em 25%.
Em um balanço que chamou a atenção dos investidores nos últimos dias, a United Airlines preparou dois cenários para o ano — em um deles, alertou para a possibilidade de forte choque sobre as receitas e lucros em caso de recessão.
A United forneceu uma abordagem alternativa para o atual momento da economia ao reconhecer e quantificar os riscos, diz Julian Emanuel, chefe de estratégia para ações e derivativos da Evercore ISI. “Adotar parâmetros sobre o que pode acontecer adiante é a forma como stakeholders tomam decisões em um ambiente onde o guidance tradicional pode acabar se tornando uma ferramenta cada vez menos confiável”, diz explica.
Sete Magníficas no foco
A fabricante de veículos elétricos Tesla, que divulga seu resultado no próximo dia 22, está sob holofotes por causa dos laços estreitos entre o dono da companhia, Elon Musk, e o presidente Donald Trump. Já a Alphabet está sob escrutínio principalmente por investimentos em inteligência artificial — foco recente dos investidores que reavaliam é os custos de projetos do tipo — e também dos gastos com publicidade.
A dona do Google também sofreu um revés na última quinta-feira, após um juiz decidir que a empresa domina de forma ilegal dois mercados de tecnologia para publicidade online.
Todas as empresas que integram as “Sete Magníficas” viram suas ações caírem de valor em 2025. A Alphabet acumula queda de aproximadamente 20% e a Tesla, de 40%. “Foi a valorização dessas empresas que carregou todo o resto para cima”, diz Kihanan. “Caso elas não consigam performar, acredito que isso desencadeará uma pausa geral, especialmente considerando um momento em que muitos tentam buscam assentar a poeira após semanas bem agitadas.”
As projeções para o crescimento dos lucros sofreram cortes nas últimas semanas. O crescimento dos lucros em 2025 das empresas listadas no S&P 500 está atualmente em 9,2%, de 14% no início do ano, de acordo com dados do LSEG IBES. Esse movimento pode se intensificar, à medida que as companhias revelam seus resultados e suas projeções de como serão afetadas pelas tarifas.
O mercado também presta atenção no Federal Reserve após o presidente Trump voltar a citar a possibilidade de demitir seu presidente, Jerome Powell, e de pedir novos cortes de juros. Um dia antes das declarações do republicano, Powell havia comentado que o Fed esperaria novos dados da economia antes de decidir sobre a trajetória da política monetária.
Investidores desejam que a temporada de balanços possa devolver a calma aos mercados. O índice de volatilidade VIX da Chicago Board Options Exchange (Cboe), que mede o nível de estresse nos mercados, retrocedeu para perto de 30 pontos nos últimos dias, após bater quase 60 pontos nos primeiros dias após o anúncio de Trump. Ainda assim, são níveis muito acima da média histórica de 17,6 pontos, de acordo com dados da LSEG Datastream.
Para Ayako Yoshioka, estrategista sênior da Wealth Enhancement, o índice deveria voltar para perto da média. Se permanecer perto dos 30 pontos, “significa que ainda não estamos seguros”, diz.
*Com informações do Valor Econômico
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