Por que ações de construtoras voam na B3 com Selic nas alturas? Resposta pode estar no pré-sal
- Setor de construção civil na B3 registra alta de quase 20% em 2025, contrariando cenário de juros altos.
- Relatório do BTG Pactual aponta bilhões em incentivos governamentais oriundos do pré-sal.
- Fundo Social, alimentado pela produção do pré-sal, pode financiar o Minha Casa Minha Vida (MCMV).
- Governo sinaliza com a Faixa 4 do MCMV, expandindo o acesso à habitação.
- Construtoras focadas em classe média, como Cury e Direcional, são as mais beneficiadas.
Empresas citadas na reportagem:
Ao largo da turbulência que vem acompanhando o mercado de ações, o setor da construção civil parece uma ilha de prosperidade na B3. Em 2025, o índice do setor (IMOB) acumula valorização de quase 20%, desafiando a lógica, já que o cenário de juro em alta sugeriria desaceleração do setor.
Agora, um relatório do BTG Pactual pode ajudar a esclarecer essa aparente contradição. O documento divulgado nesta sexta-feira (11) aponta que o setor pode receber dezenas (talvez centenas) de bilhões de reais em incentivos governamentais nos próximos anos, oriundos da exploração de petróleo do pré-sal.
Como parte da regulamentação da exploração dessas gigantescas descobertas anunciadas em 2007, três anos depois o governo da época criou o Fundo Social, instrumento que receberá parte das receitas dessa atividade para financiar projetos sociais.
Ocorre que só agora a produção de petróleo do pré-sal começa a ganhar tração, com isso alimentando também o Fundo Social.
O BTG calcula que o fundo deve receber R$ 24 bilhões em 2025, crescendo até chegar a um pico em 2030 (veja gráfico abaixo). E um dos recursos do fundo pode ser justamente com a concessão de recursos subsidiados pelo governo para financiar a habitação popular, caso do Minha Casa Minha Vida (MCMV).
Expectativa de recursos que o Fundo Social deve receber do pré-sal
“O Fundo Social pode ser uma fonte recorrente de financiamento para o MCMV”, escreveram os analistas Gustavo Cambauva, Fabio Serrano e Elvis Credendio, que assinam o relatório.
Vem aí a faixa 4 do Minha Casa Minha Vida
Nesse sentido, o governo vem sinalizando com a Faixa 4 do MCMV, que atenderia famílias com renda entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, elevando de R$ 350 mil para R$ 500 mil o valor dos imóveis que poderiam ser adquiridos dentro do programa. As primeiras três faixas do projeto atendem famílias de renda menor.
Consequentemente, as construtoras mais especializadas em públicos de classe média vêm fazendo planos mais ambiciosos de crescimento, o que entusiasma o setor e os investidores, como mostram as tabelas abaixo:
| Construtora/ação | Variação acumulada em 2025 |
| Cury (CURY3) | +49% |
| Cyrela (CYRE3) | +42% |
| Eztec (EZTC3) | +41% |
| Moura Dubeux (MDNE3) | 40% |
| Lavvi (LAVV3) | +26% |
| Direcional (DIRR3) | +23% |
| Even (EVEN3) | +2,8% |
| IBOV | -1% |
| MRVE3 | -11,5% |
| Índice | Variação em 2025 |
| Ibovespa | -1% |
| Índice do setor imobiliário (IMOB) | +19% |
Ilustrando esse cenário, na quinta-feira algumas delas anunciaram resultados operacionais mistos no primeiro trimestre de 2025, com destaques positivos para Cyrela e Direcional.
Fundo Social pode impulsionar MCMV, calcula BTG
Nas contas da equipe do BTG, os ingressos do Fundo Social nos próximos anos devem atingir cerca de 5 vezes a injeção recentemente anunciada pelo governo no MCMV.
Dessa forma, o orçamento para o programa habitacional poderia até ser ampliado se for bem-sucedido.
“Não descartamos que esta possa ser uma fonte de financiamento recorrente para o MCMV”, afirmaram os analistas.
Dessa forma, todas as construtoras com foco em baixa e média rendas seriam beneficiadas, especialmente Cury e Direcional. As duas têm cerca de 20% a 30% das vendas no nicho de renda média.
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