Joesley Day oito anos depois: lições que ficam

Foi um verdadeiro terremoto nos preços dos ativos brasileiros

Já pela manhã sabíamos que o dia seria complicado. A notícia tinha saído na noite anterior e duras manchetes circulavam antes do pregão abrir. O cheiro de volatilidade estava no ar. Montamos uma reunião de emergência para revisar nossas recomendações: será que o que indicávamos fazia sentido diante do que estava por vir? Preparamos uma comunicação com orientações para clientes e investidores, mas sabíamos que seria um daqueles dias que não se esquecem.

Era 18 de maio de 2017, o dia seguinte à revelação bombástica da delação premiada de Joesley Batista, dono da JBS. A gravação envolvendo o então presidente da República foi o estopim. O conteúdo trazia acusações gravíssimas, suspeitas de corrupção e uma conversa que sugeria, no mínimo, complacência com irregularidades. A confiança, já abalada pela crise política anterior, desabou.

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Joesley Day: circuit breaker na bolsa

O mercado reagiu de forma imediata e brutal. O Ibovespa despencou 8,8%, fechando aos 61.597 pontos, após acionar o circuit breaker logo nas primeiras horas do pregão. O dólar disparou 8,15%, encerrando o dia cotado a R$ 3,38. Foi um verdadeiro terremoto nos preços dos ativos brasileiros. Naquele momento, parecia que o chão havia sumido debaixo dos nossos pés.

Hoje, ao olharmos para trás, vemos que no próximo dia 17 de maio completam-se oito anos daquele episódio. Não foi a primeira nem seria a última vez que o mercado enfrentaria dias difíceis. Eu mesmo já havia passado pela crise asiática em 1997, pela moratória russa em 1998, pela maxidesvalorização do real em 1999, pela bolha da NASDAQ nos anos 2000, pela grande crise financeira de 2008, e depois por pandemia, guerras, choques de commodities e mais recentemente, surtos de inflação e choques tarifários. Mas o Joesley Day foi emblemático por acontecer em um momento de aparente retomada de confiança – e justamente por isso, seu impacto foi tão violento.

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O maior aprendizado que ficou é que, embora seja impossível afirmar com precisão qual é a melhor decisão a se tomar em momentos assim, é quase sempre possível identificar a pior: agir no desespero. Vender tudo em pânico, realizar prejuízo, abandonar uma estratégia de longo prazo por impulso. Esse costuma ser o caminho para o arrependimento.

Na época, a bolsa era negociada na casa dos 60 mil pontos – menos da metade do que está hoje. Quem resistiu ao pânico, reavaliou com frieza e manteve uma visão de longo prazo, saiu ferido, mas não derrotado. Muitos, aliás, saíram fortalecidos.

Recuperação do mercado após crises

Charlie Munger, parceiro inseparável de Warren Buffett, costumava dizer que “investir bem é apenas não fazer grandes bobagens”. E ele tinha razão. O mercado premia a paciência. Existem prêmios de risco nas ações, existem juros reais nos títulos de renda fixa, existe a capitalização composta e a criação de valor por empresas bem geridas. É essa engrenagem que gera riqueza para quem resiste à tentação de agir por impulso.

Buffett, por sua vez, é autor de uma das frases mais repetidas, e mais verdadeiras, do mundo dos investimentos: “O mercado de ações é um gigantesco mecanismo de transferência de riqueza dos impacientes para os pacientes.” Em outras palavras: o preço da pressa é alto, e quem espera colhe.

Richard Thaler, prêmio Nobel de Economia, chamou a atenção para a miopia do investidor: o descompasso entre o prazo de nossos objetivos e a frequência com que avaliamos nossos investimentos. Queremos rentabilidade de longo prazo, mas julgamos nossos ativos todos os dias, muitas vezes a cada hora. Essa miopia nos torna vulneráveis a ruídos e decisões precipitadas.

O Joesley Day foi um dia de medo, mas também de aprendizado. Os ciclos vêm e vão, os choques políticos e econômicos continuarão existindo. Mas quem mantém a cabeça fria no calor da crise, quem olha para frente em vez de agir pelo retrovisor, costuma ser recompensado.

Embora esse dia tenha sido marcado pelo medo e pela volatilidade, também trouxe lições importantes sobre paciência, visão de longo prazo e resiliência no mercado financeiro. Na clássica canção dos Beatles, Here Comes the Sun, a letra diz: “It’s been a long, cold, lonely winter… here comes the sun”.

Da mesma forma, após um período de incertezas e escuridão, a luz de um novo dia volta a aparecer. A recuperação do mercado após crises como essa é como o sol que volta a brilhar depois de um longo inverno, renovando a confiança e mostrando que tempestades, por mais intensas, são passageiras. Essa metáfora de luz após a escuridão reforça a mensagem otimista de que mesmo os momentos mais sombrios podem prenunciar dias melhores, ressaltando a importância da paciência, da resiliência e da visão de longo prazo.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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