Eles se planejaram para viver de renda fixa e rodar a América do Sul em um motorhome

Com um plano bem estruturado, portfólio ancorado em renda fixa e um imóvel alugado, Mariana Przysiny e Bruno Lima deixaram seus empregos em dezembro de 2021 para viverem de investimentos e embarcarem em uma jornada de dois anos e meio pela América do Sul. A decisão do casal, longe de ser impulsiva, foi fruto de quase cinco anos de organização financeira, metas bem definidas e um modelo de vida baseado em liberdade com estabilidade.
A ideia surgiu em 2017, quando Bruno, historiador, decidiu que faria um ano sabático antes dos 35 anos. O roteiro era ambicioso: cruzar as américas e, depois, a Europa. Na mesma época, Mariana, professora de matemática, comprava um imóvel quitado – e começava a se afastar da poupança e estudar formas mais eficientes de investir.
“Eu sempre tive um perfil conservador, então a renda fixa sempre foi meu foco. Na época, contei com a ajuda de um assessor para entender os primeiros passos e, aos poucos, fui ganhando autonomia”, conta.
Renda fixa como estratégia para viver na estrada
A rotina do casal sempre incluiu viagens nas férias escolares. Mas foi durante a pandemia, em 2020, que o plano de longo prazo começou a tomar forma. Trancados em casa, Mariana decidiu calcular quanto realmente custaria o projeto. Chegaram ao número mágico: cerca de R$ 100 mil seriam suficientes para manter os dois na estrada por dois anos e meio, com um estilo de vida simples e itinerante em um motorhome adaptado.
A partir daí, a estratégia foi montada. Mariana passou a comprar CDBs, LCIs e LCAs com vencimentos programados para garantir liquidez mensal ao longo da viagem, que começou em 2021.
“Nós projetamos um custo médio de R$ 3 mil por mês. Em vez de depender dos rendimentos, o plano era ter resgates programados. Investi com vencimentos escalonados: janeiro, abril, julho, outubro. Tudo pensado para manter o fluxo de caixa”, explica.

Além disso, o imóvel do casal foi alugado, garantindo uma fonte adicional de receita durante o período. Foi assim que eles conseguiram, na prática, viver de renda fixa durante boa parte da viagem – uma estratégia pensada para oferecer previsibilidade financeira mesmo sem salário fixo.
Nos primeiros meses, a vida na estrada funcionou exatamente como o planejado.
Mas em 2022, Mariana decidiu dar um novo passo. A professora começou a oferecer mentorias individuais de educação financeira voltadas para mulheres. A nova renda não só sustentou a viagem, como permitiu que o capital investido continuasse sendo reaplicado conforme os vencimentos chegavam.
A partir de 2023, com uma rotina mais estável e clientes recorrentes, o casal fez uma transição: vendeu o motorhome, comprou um carro e passou a viajar se hospedando em apartamentos alugados por temporadas. A viagem ficou mais confortável e também mais cara. Ainda assim, o equilíbrio entre investimentos, aluguel do imóvel e a renda gerada pelas mentorias garantiram a continuidade do projeto.
Foram dois anos e meio rodando a América do Sul, passando por cidades como Bogotá, Quito, Lima, Cusco e La Paz. “Ficávamos cerca de um mês em cada lugar. Era uma forma de viver mesmo, não só passar pelos pontos turísticos”, diz Mariana.
Disciplina como liberdade
Hoje, com cerca de 80% do patrimônio ainda alocado em renda fixa, ela mantém a disciplina que garantiu a liberdade para sair da rotina tradicional. “Eu sempre fui muito estratégica com vencimentos e prazos. Esse tipo de controle foi o que tornou possível viver de renda fixa com tranquilidade e mobilidade.”
Atualmente, Mariana está envolvida na criação de uma startup de educação financeira voltada para professores – projeto que nasceu após ser uma das 20 selecionadas no programa TD Impacta, do Tesouro Direto. Bruno, por sua vez, começou um mestrado e ambos foram aprovados em concurso público em Santa Catarina, onde agora se reestabelecem. Ao menos por enquanto.

A próxima fase da aventura já está no radar: Estados Unidos, Canadá e Europa. “Adiamos por conta do cenário político e algumas questões logísticas, mas seguimos com os investimentos ajustados. O plano é continuar viajando”, diz.
Enquanto isso, Mariana segue atendendo mulheres com o mesmo perfil que ela tinha anos atrás: pessoas dispostas a sair da poupança e usar a renda fixa como ferramenta para atingir metas concretas.
“Tenho clientes que, com a renda fixa, já usaram o dinheiro para fazer um intercâmbio, compraram apartamento ou congelaram óvulos. O investimento, para mim, é isso: um meio para realizar objetivos. Foi assim que a gente conseguiu viver de renda fixa por mais de dois anos – com clareza, controle e consistência.”
Leia a seguir